quinta-feira, 19 de maio de 2016

LIBERUM ANIMUM

Já nascemos com o DNA da independência.
Isso fica claro a medida que o bebê vai crescendo e aos poucos vai arriscando novos desafios. Começa a se soltar das coisas, vai subindo onde antes era impossível, vai fazendo gavetas de degraus e assim por diante. Até que quando menos se espera, está homem ou mulher feitos e tomando decisões para a vida.
Esse processo é natural e saudável. A busca da independência nos força à responsabilidade e a responsabilidade nos amadurece. Viver a vida inteira "debaixo da saia" dos pais nos infantiliza e nos torna eternos bebês chorões.
Portanto, qualquer instituição ou processo que não nos incentiva à independência, é tirano e ditatorial. E isso vai desde pais que não soltam seus filhos para viver, passando por igrejas que mantém sua membresia impondo o terror e o medo, até governos que aprisionam seus cidadãos pelos programas de ajuda que se eternizam e assim mantém eleitores fieis e encabrestados.
Os pais, devem ensinar seus filhos da melhor maneira possível e deixá-los viver, apostando na criação que deram.
As igrejas, devem ensinar seus membros a viverem de modo piedoso, e deixá-los livres para demonstrar essa piedade pelo mundo, mas nunca criar regras que os aprisionem dentro da instituição apenas a fim de manter o "negócio" funcionando.
O governo, deve proporcionar meios para que todos os cidadãos possam se desenvolver da melhor maneira possível, dentro das capacidades individuais, mas nunca escravizar o povo com "programas sociais" eleitoreiros que os mantém como eternas vítimas, incapacitando-os de buscar a ascensão pessoal e a independência em todas as suas formas. Um governo que "dá" tudo para seu povo não é um governo bom, mas um escravagista sem escrúpulos.
O próprio Deus, mesmo depois do homem ter traído a confiança de sua amizade, dá a este total liberdade: vai, enche a Terra, domina sobre ela, mas saiba que suas atitudes têm consequências. E é assim que devemos viver nossa vida, livres, mas conscientes de nossas responsabilidades.
Processos que causam dependência são verdadeiras prisões, e quanto mais aprisionados, mais dependentes. É um processo de retroalimentação quase irreversível.
Não nos deixemos aprisionar, sobretudo a nossa mente. Pessoas que têm a mente livre, podem até estar fisicamente encarcerados, mas interiormente estão construindo um mundo, e sobre estas pessoas não há ditadura que impere.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

QUE A MORTE NÃO ERRE

O Shaolin morreu. Foram 1821 dias após o acidente; assim relatou sua esposa nas redes sociais.
Foram quase 5 anos, mas sua esposa contava em dias. Isso soa como um peso e deve ter sido mesmo. Por mais que houvesse amor e paciência, com certeza foi muito pesado, física, psicológica e financeiramente, para toda a família.
Não quero que seja assim comigo. Não acredito em carma. Não acho que eu deva ficar em uma cama por 5 anos para corrigir "erros" ou me "arrepender" de coisas que fiz e não deveria. Não acredito nisso.
Mesmo porque arrependimento significa mudança de direção, coisa que não se pode fazer em uma cama.
Sinto por ele e por sua família. Não tenho explicações "espirituais" para dar. Acho que infelizmente foi assim por uma casualidade do destino.
Mas se eu puder pedir alguma coisa, eu peço que comigo não seja assim. Se eu tiver que ir embora, que seja logo. Não tenho medo do além. Não tenho medo da morte. Tenho certeza que em alguns casos ela é melhor que a vida.
Não quero tempo para me despedir. Se não vivi adequadamente com meus familiares, não serão 5 minutos de lágrimas e desespero que vão mudar isso. Se tiver que ir, quero ir rápido, como quem tem pressa ou como quem não vê a hora de chegar ao destino. Quero ir ao encontro do Pai como o filho que corre para abraçar seu pai depois de muito tempo sem vê-lo.
Não quero que meus últimos dias sejam contados um a um, sentidos minuto a minuto, arrastando-se para terminar.
Quero que haja tristeza, sim, mas que essa seja breve como deve ser.
E se eu puder pedir só mais uma coisa, eu pediria morrer na ordem certa, como disse o Rubem Alves: primeiro o avô, depois o pai e depois o filho, nunca ao contrário.
Que assim seja.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O TEMPO DE DEUS

Esta é uma expressão comumente usada no meio evangélico que quer dizer mais ou menos assim: o tempo em que Deus vai agir em favor de alguém, a fim de fazer algo de bom na vida desse alguém. O que leva a entender que o contrário também vale, ou seja, se o algo bom que a pessoa espera ainda não aconteceu, quer dizer que não chegou o tempo de Deus agir.
É difícil até de explicar. E eu parto do princípio que tudo que é difícil de explicar tem uma grande chance de conter inverdades.
Quando eu acredito nas afirmativas acima, eu tenho necessariamente de entender que Deus só age em um determinado tempo, para dar aquilo que eu preciso. E eu tenho necessariamente de ignorar todo o processo que transcorreu para chegar ao desfecho daquilo que eu esperava, que poderá acontecer ou não.
Eu ignoro o processo, porque todo processo gera ansiedade, espera e por vezes muita dor e decepção. Eu escolho ignorar o processo, porque minha religiosidade me ensinou a não ver Deus em situações de ansiedade, dor, medo ou decepção. Como Deus pode estar agindo se eu estou sofrendo?
E aí eu fico esperando por este tal de tempo de Deus e deixo de aprender. E nesta espera, também deixo de viver, deixo de reconhecer pequenas vitórias, deixo de conhecer pessoas interessantes, deixo de brindar todo o restante que há de bom acontecendo, poque eu estou obcecado, esperando pela grande cereja do bolo, e quando eu me der conta o bolo já se foi, a vida já se foi e na verdade a grande vitória talvez nem seja mais tão grande assim.
É uma pena, porque eu acho que o tempo de Deus é o agora, o presente.
Deus não age no futuro porque futuro é coisa só d'Ele, não nos cabe, está além da nossa compreensão. Deus age no presente, no dia a dia, no cotidiano e na vida que vai transcorrendo, com alegria ou na ausência dela.
Apesar de sua transcendência, Deus se rebaixa ao nosso nível e escolhe ir agindo conforme os dias vão passando, na vagareza das horas, no tic-tac dos relógios, e na limitação do ser humano. O Senhor do tempo não tem pressa, porque o tempo já é dele, e Ele nos dá o tempo que se chama hoje para que vivamos nele e só nele.
Por isso acho uma profunda indelicadeza com nosso Criador desprezar aquilo que Ele tão carinhosamente nos preparou - o agora - vivendo ansiosamente por aquilo que nem sabemos se vai chegar ou não, pregando aos quatro ventos que o tempo de Deus ainda está por vir, quando na verdade ele já veio e está sendo.
Como nossa vida seria mais leve se pudéssemos passar por ela saboreando cada minuto dela, sem a ânsia do incerto futuro, sentindo Deus no aqui e no agora.

terça-feira, 16 de junho de 2015

TEMPO DE SE CALAR

A Bíblia fala que há um tempo para cada coisa. Mas ela não diz quando agir de determinada maneira diante de tal situação. Aparentemente, de acordo com o texto, o pregador nos deixou livres para escolher, usando para isso alguma sabedoria. Porque é fato que, escolhendo bem ou mal, vamos colher os frutos desta escolha.
Mas a verdade é que estou vivendo um tempo de quietude de alma e de mente. É meu tempo de se calar.
Diante de tantas transformações que tem vivido nosso mundo e diante de tanta informação midiática a que estamos expostos todos os dias, senti de um tempo pra cá uma certa canseira intelectiva. Acho que não estou emburrecendo não, apenas não tenho mais a mesma disposição para algumas elucubrações e tantas outras discussões estéreis e infindáveis.
Muita coisa perdeu o sentido há algum tempo, e dentre elas a necessidade de convencimento. Há muito deixei de tentar convencer quem quer que seja do que quer que seja.
Se perguntam minha opinião, respondo, mas não quero que ninguém me siga e tampouco estou interessado que concordem comigo.
Cansei de ver e ler tanta opinião por aí, gente se desgastando e se digladiando mutuamente, cada um com a sua "verdade", cada qual tentando convencer o outro de que o seu pensamento é que é o bom, o certo e o que deve ser seguido por todos.
Minha mente precisava de paz e para isso deixei até de ver TV. Aconselhado por um amigo, entendi que meu campo de ação diante de todas as mazelas que são vendidas pela telinha era muito pequeno quando não ausente, e que assistindo todas aqueles desgraças, o único prejudicado era eu mesmo.
E nesse marasmo mental, também deixei de escrever neste espaço. As ideias continuam, mas o ânimo deu um tempo. Talvez volte um dia, mas também isso não me preocupa. Se voltar, quero que seja de livre vontade, sem cobranças, sem pressa e sem precisar provar nada a ninguém.
Acho que tem que ser assim mesmo, porque já que o pregador não nos deu uma tabelinha de como agir com o tempo de cada coisa, resta-nos seguir nossa intuição e nossa disposição, calando no momento certo até que o próximo tempo venha trazer novas mudanças.