sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SONHEI COM A IGREJA...

Hoje sonhei com uma igreja. Era diferente das que estamos acostumados a ver. Pra começar não se parecia com uma igreja tradicional. Era uma casa bem grande, com muitos cômodos, bem simples, mas bem confortáveis.
Tentei ver na fachada qual o nome impresso, mas não tinha nada escrito. Apesar disso, todas as pessoas com quem eu falava sabiam que lá era uma igreja.
A pessoa que tomava conta da casa era conhecida como "o irmão". Parece que ele tinha alguma patente eclesiástica, mas não gostava de ser chamado por ela, preferia apenas "irmão". Era casado e tinha 3 filhos.
O mais interessante desta igreja era que não tinha uma liturgia bem definida. De manhã sentavam-se em uma grande mesa, agradeciam pelo alimento e comiam juntos. Lembravam que suas vidas eram devidas a Jesus e ao que Ele fez enquanto esteve aqui na Terra. Lembravam também que foi pela sua morte que agora, eles estavam vivos. Às vezes cantavam alguma música, às vezes liam uma poesia, liam e comentavam um texto da Bíblia,  e às vezes partilhavam de alguma experiência, tudo ao redor da mesa; depois comiam contentes e satisfeitos.
Neste dia, depois do café da manhã, perguntei qual seria o horário do culto e o irmão me disse que haviam acabado de fazê-lo. Então comecei a entender algumas coisas.
Terminado o café, algumas pessoas foram limpar os banheiros, outras foram varrer o quintal, que aliás era bem grande e com muitas árvores, e outras ainda começaram a preparar o almoço.
Conforme as coisas iam acontecendo, algumas pessoas chegavam à igreja aparentando serem estranhas ao ambiente. A maioria estava mal vestida e mal cheirosa, como alguém que já há muito tempo não tomava um bom banho. Eram encaminhadas ao vestiário e podiam trocar as roupas sujas por outras limpas. Sentavam-se à mesa e também comiam.
Um senhor chegou muito doente, recebeu os primeiros socorros e foi encaminhado a um hospital que ficava bem perto.
E assim, um a um, ia chegando e saindo, pessoas sozinhas, famílias inteiras, outros que só queriam conversar e depois iam embora com um semblante de leveza no rosto.
Foi chegando a noite e percebi que a movimentação continuava. Perguntei quando a igreja iria fechar e o irmão com um sorriso paciente me disse que aquela casa jamais fechava. A qualquer momento do dia ou da noite, sempre teria alguém lá para receber qualquer um que chegasse cansado da vida, precisando de um banho ou um prato de comida, ou simplesmente um ouvido para desabafar.
Perguntei se pagavam por aquele tratamento e ele me disse que apenas se tivessem condição de ajudar com alguma coisa e se assim o quisessem. Disse ainda que apesar disso, nunca havia faltado o sustento da casa, e ele não conseguia me explicar como isso acontecia. Disse que a única exigência que faziam era que, saindo de lá, as pessoas deveriam prometer que fariam o possível para espalhar esse amor que haviam recebido e que lembrassem a outros que isso não era nada mais do que aquilo que Jesus mandou fazer.
E assim a igreja do irmão ia vivendo. Não era grande porque a maioria das pessoas só estavam de passagem, mas de uma forma geral, garantiam que aqueles dias passados ali, haviam mudado as suas vida para sempre.
Claro que haviam outros que mal agradeciam, mas ninguém se importava não, porque o Jesus a quem eles seguiam também havia passado pela mesma ingratidão. Nada ali era feito pensando em retribuição.
Naquele momento eu acordei, percebi que fora somente um sonho... eu estava ofegante, mas feliz.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O EVANGELHO DE JONAS: MISERICÓRDIA EM TEMPO DE ÓDIO

"Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença" Jonas 1:2

"Aquele que teve misericórdia dele, respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: Vá e faça o mesmo" Lucas 10:37

O livro de Jonas é escandaloso e provocante. Mostra Deus como realmente é em toda a sua graça em uma época em que a lei era olho por olho e dente por dente. Nínive era a capital da Assíria. O povo assírio era violento e desumano. Quando invadia um país, além dos costumeiros saques, impunha horror. Cometia as maiores atrocidades que a mente humana já conseguiu conceber. Pela lei lógica vigente, a retribuição para o povo assírio deveria ser a mesma, horror e atrocidade.
Mas Deus, em seu costumeiro modo ilógico de tratar com o ser humano, manda Jonas pregar para aquele povo porque Ele queria salvá-los. Fantástico, escandaloso, provocante e surpreendente é o amor de Deus. Ele inverte a lógica humana e faz o que ninguém seria capaz de fazer. Amar quem não merece. Amar gratuitamente a imagem mais grotesca e bizarra da humanidade.
Tanto Jonas como o mestre da lei foram nocauteados pelo amor de Deus. Estavam tão cheios de si, tão inchados em sua religiosidade mesquinha e egoísta que não podiam aguentar tanto amor. E Deus continua fazendo o mesmo ainda hoje com nossos egos obesos.
Podemos usar quantos argumentos quisermos. Podemos filosofar, arguir, refletir, ponderar, mas os textos soarão em nossas mentes como sinos ensurdecedores dizendo: prega contra ela...vá e faze o mesmo...
Assim são as boas notícias de Jesus: Como eu te amei, vá e faça o mesmo. Como eu tive misericórdia de ti, vá e faça o mesmo.
Talvez as boas notícias de Jesus não sejam boas notícias pra você. Talvez você, assim como eu, tenha momentos (não raros) em que o único sentimento é raiva, desprezo e vingança. Se é assim que acontece, fale isso pra Jesus, mostre a Ele a sua indignação e os motivos de sua ira. Seja sincero porque isto é legítimo.
Mas esteja preparado para viver experiências surpreendentes de manifestação de misericórdia e graça. Esteja preparado para amar de uma forma que você jamais seria capaz sozinho. Aliás, isso é algo que só o evangelho de Jesus pode fazer com o ser humano. Nenhuma religião ou filosofia é capaz disso porque a graça só é conhecida e manifestada pela pessoa de Jesus.
Experimente se deixar viver uma experiência de graça, porque Jesus continua dizendo: vá e faze o mesmo!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PROFETA FILHO DE PROFETA

"E veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Jonas 1:1-2

Poderia começar este texto com a música do Chico: O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano...
Adoramos genealogias. Valorizamos os sobrenomes, sobretudo os mais "importantes" e imponentes; os estrangeiros estão no topo da lista, como se isso nos fizesse pessoas melhores e de bom caráter.
Coisa de judeu.
Se você perguntar para um judeu autêntico, é bem capaz que ele saiba de que tribo de Israel ele pertence, mesmo que resida em outro país que não Israel.
Se Jonas fosse cantar a música do Chico, seria mais ou menos assim: o meu pai era profeta, meu avô também profeta, o meu bisavô profeta, meu tataravô profeta; porque naquele tempo, filho de profeta, profetinha era, ou melhor, naquele tempo não, ainda hoje é assim, ou não é?
Pra mim Deus não deixou esta frase "filho de amitai" porque Ele se importava com as genealogias. Deus deixou simplesmente para nos dizer que, apesar de profeta, filho de profeta, não exerceu bem a sua "profissão".
Se eu fosse me utilizar do modo de valorização que a maioria das pessoas usam estaria em maus lençóis. Meu pai era funileiro, meu avô era pipoqueiro e sapateiro, e a minha história termina aí porque em família de pobre quem quer saber quem vem de quem?
Apesar da minha genealogia "insignificante", um dia, sabe-se lá porque cargas d'água, Deus me disse que de alguma forma eu poderia fazer algo de bom neste mundo. Que mesmo não apresentando exímia capacidade intelectual, mesmo não sendo financeiramente abastado, mesmo não sendo conhecido e aclamado como formador de opinião, eu poderia fazer alguma coisa no seu reino.
E a boa notícia para os maltrapilhos deste mundo, nos quais eu me incluo é esta: Qualquer pessoa pode fazer alguma coisa boa neste mundo, basta atender à voz de Jesus: apascenta as minhas ovelhas!
Esta é a maravilha do evangelho. Você não precisa ser profeta filho de profeta, pastor filho de pastor, apóstolo filho de apóstolo para ser um propagador da boa notícia do reino de Deus . Basta ser gente e responder ao convite de Jesus: apascenta as minhas ovelhas!
Por isso, filho do funileiro, do médico, do sapateiro, do dentista, do pedreiro e do advogado, dentro de suas capacidades, dentro do seu círculo de convivência, você pode ser também um pastor de ovelhas, genuinamente falando.
Aliás, só vamos ser realmente pastores de ovelhas quando qualquer outro título ou "sobrenome" não fizer mais o menor sentido em nossas vidas, quando qualquer objeto de ostentação perder completamente o seu significado, quando deixarmos que as vozes de aclamação e bajulação se emudeçam completamente para nós, aí sim, estaremos aptos para cumprir o convite de Jesus: apascenta as minhas ovelhas!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

QUE HOMEM É ESTE?

Entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. De repente, uma violenta tempestade abateu-se sobre o mar, de forma que as ondas inundavam o barco. Jesus, porém, dormia. Os discípulos foram acordá-lo, clamando: "Senhor, salva-nos! Vamos morrer! " Ele perguntou: "Por que vocês estão com tanto medo, homens de pequena fé? " Então ele se levantou e repreendeu os ventos e o mar, e fez-se completa bonança. Os homens ficaram perplexos e perguntaram: "Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem? " Mateus 8:23-27

Esta é a pergunta que todo cristão deveria fazer em sua jornada. E não fazê-la somente uma vez, mas todas as vezes em que sentir necessidade de testar a qualidade da sua espiritualidade. Falo assim porque pode acontecer que ao longo da vida percamos Jesus de vista.
Nesta pergunta se baseia toda nossa fé. O tipo de espiritualidade que demonstraremos ou o modo como nos relacionaremos com Deus está intrinsecamente ligado em como responderemos a esta simples questão. Para mim, quem é Jesus?
Se Jesus for para mim apenas um acalmador das tempestades mais turbulentas da vida, então só vou me lembrar dele quando a coisa estiver bem complicada. Enquanto estiver dando conta do recado não preciso dele; ele pode continuar dormindo porque nesse caso do meu barco cuido eu.
Se Jesus for apenas um cara bacana, que viveu neste mundo de forma incomum, que pregou a paz entre as pessoas e que ajudou muita gente e depois morreu, então Ele não poderá fazer muita coisa por mim já que está morto. No máximo, Ele me servirá de um bom exemplo de vida.
Jesus precisa ser tudo isso e muito mais. Ele precisa ser o meu socorro sempre presente na tempestade, mas também minha fonte de inspiração na calmaria. Ele precisa ser meu exemplo de vida e fé. Ele precisa ser meu irmão, conselheiro, meu redentor, o meu tudo.
Quanto mais caminhamos com Ele, mais cheio de significado Ele será em nossa existência. Quanto mais nos tornamos íntimos, menos medo do dia mau teremos, porque saberemos que, mesmo que pareça que esteja dormindo, no fundo de nosso ser, saberemos que Ele está velando por nós.
Foi por isso que os discípulos foram corrigidos por Jesus. Vocês não têm fé não?
- Fé pra quê? Pra dizer para a tempestade e para o vento se acalmarem?
-Não, para saberem que eu sempre estarei ao lado de vocês, mesmo quando for para o meu Pai.
Isto é maravilhoso. É assim que tem que ser nossa fé. Ela se faz viva quando entendemos que em alguns momentos não podemos fazer mais nada, mas sabemos que Jesus está ao nosso lado.
Quem é este homem que eu digo seguir? Quem é este que confesso ser discípulo?
A nossa resposta nos dará uma boa pista por onde anda nossa espiritualidade e nossa comunhão com o Cristo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O ESCÂNDALO DA CRUZ

Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. 1 Coríntios 1:18-24

A mensagem do evangelho é a mensagem do Cristo crucificado e ressurreto. Não há outra mensagem que possa tirar o homem do seu processo de morte espiritual que o mantém longe de Deus. É assim que Paulo começa sua carta que tem a intenção de tratar um problema na igreja de Corinto, a divisão entre os irmãos.
Alguns, por possuirem uma situação financeira melhor, tratavam os demais com desprezo e descaso. Na própria reunião da ceia, onde se celebrava o Cristo ressurreto que morreu para de todos os povos fazer um, havia divisões, uns se banqueteavam e outros passavam fome.
Outros, talvez por não terem posses, usavam sua suposta "espiritualidade", para se mostrarem superiores aos demais. Esqueciam-se de que os dons não são dados por mérito, mas por graça de Deus.
Então Paulo começa o trecho acima demonstrando o paradoxo da mensagem da cruz que é exatamente o oposto ao modo de vida que aqueles crentes viviam.
A mensagem da cruz é loucura para quem está morrendo. Não deveria ser o contrário? Se estou morrendo e vem alguém me dizer que há um remédio que pode me salvar, não haveria eu de aceitar esse presente?
Mas o problema do homem é exatamente esse, aceitar que está neste processo de morte e que esse processo, no fim das contas será irreversível. Para aquele que está neste processo, esta mensagem se torna louca e insana.
Um outro obstáculo encontrado nesta mensagem é que ela se diz única. Todas as religiões que existiram em todos os tempos trataram as suas divindades em uma relação de troca e barganha. Para se alcançar o favor desta divindade devia-se oferecer algo em troca. Vem Jesus e diz que está tudo pago e você não precisa oferecer nada em troca. Aliás, nada do que você ofereça é capaz de fazê-lo se aproximar de Deus, porque de fato é Deus quem se aproxima do ser humano. Isto é fantástico, mas é escandaloso para um mundo onde as idéias de retribuição estão vivas dentro das pessoas em cada âmbito de suas relações.
O seu intelecto não é capaz de compreender a mensagem da cruz. Você precisa se convencer de que a simples inteligência é incapaz de reconhecer nesta mensagem a fonte da vida. A cruz nos faz despirmo-nos de tudo aquilo que nos dá orgulho, nossa inteligência, nossa cultura, tudo aquilo que temos ou que somos, tudo deve ser retirado ao nos chegarmos à cruz de Cristo.
Não há milagre na mensagem da cruz, pelo menos não nos moldes pretendidos pelos judeus. Jesus disse que o único sinal que haveria seria o de Jonas, ou seja, o sinal de sua morte na cruz do Calvário e sua posterior ressurreição. Nada mais. Não existe milagre em um homem carregando a sua cruz pelas ruas de Jerusalém com o corpo todo ensanguentado implorando por um copo de água. Jesus abriu mão de qualquer evento espetacular que o fizesse se libertar da cruz. Existe, claro, um milagre, mas não é espetacular no sentido visual da palavra (pelo menos não no início); este é o milagre do novo nascimento que se processa quando eu entendo que o sinal de Jonas foi por minha culpa. Mas antes disso, não há milagre, só há escândalo.
Por fim a mensagem da cruz diz que após a apropriação desta mensagem em minha vida eu preciso negar a mim mesmo, carregar a minha cruz e seguir a Cristo, e assim serei seu discípulo.
Carregar a cruz não é levar problemas da vida. Não é a doença, a dependência química do filho ou o marido alcoólatra. Carregar a cruz é se identificar com Cristo, e nós só conseguiremos essa identificação quando nos parecermos com ele, negando a nós mesmos e nos preocupando com o outro.
O carregar a cruz para Jesus significa entre outras coisas que Ele havia abrido mão de sua glória, de tudo que era e possuía quando estava com o Pai, para se preocupar com o ser humano, e não há outra forma de se identificar com o Cristo e ser seu discípulo se não fizermos o mesmo. E à medida em que vamos vivendo desta forma, altruísta e solidária, vamos ficando cada vez mais parecidos com nosso mestre ao ponto das pessoas não terem dúvidas quanto ao nosso discipulado.
A mensagem da cruz é radical e exige uma mudança radical de todo aquele que se identificar com ela. É poder de Deus para aqueles que vão sendo salvos.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

JOIO COM CARA DE TRIGO?

Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo; Mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio. E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu, no teu campo, boa semente? Por que tem, então, joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo? Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.
...
Então, tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa. E chegaram ao pé dele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a parábola do joio do campo. E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno; O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniqüidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Mateus 13:24-30; 36-43
 
Graças ao bom Deus, Mateus deixou registrado a interpretação desta parábola, coisa que não ocorre com a maioria delas. Aqui, Jesus dá nome aos bois. Explica direitinho quem é quem e assim fica mais fácil entender o que ele quis mostrar.
Fiz um exercício muito interessante, trocando as figuras da parábola pelas interpretações dadas por Jesus, então ficou assim:
 
"O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia os filhos do reino no mundo; Mas, dormindo os homens, veio o diabo, e semeou os filhos do mal no meio dos filhos do reino, e retirou-se. E, quando o reino cresceu e frutificou, apareceu também os filhos do mal. E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu, no mundo, os filhos do reino? Por que tem, então, filhos do mal? E ele lhes disse: O diabo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo? Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher os filhos do mal, não arranqueis também os filhos do reino com ele. Deixai crescer ambos juntos até o fim do mundo; e, por ocasião do fim do mundo, direi aos anjos: Colhei primeiro os filhos do mal, e atai-o em molhos para o queimar; mas, os filhos do reino, ajuntai-o no meu celeiro "
 
Dessa forma quase não precisa de mais explicações; vou apenas tecer algumas considerações:
1. Com o crescimento do reino é inevitável que apareçam os filhos do mal. Se não fosse Jesus nos dizer que é o diabo quem planta os seus filhos no reino, seria quase natural supor que no meio de gente boa aparecesse também gente ruim. É uma conclusão estatística óbvia; já que o mal está intrínseco no ser humano, uma boa parcela da população deve ser má. Além de contarmos com a probabilidade, Jesus nos diz que o diabo dá uma forcinha pra essa conta aumentar ainda mais. Ele propositalmente, insere seus súditos no meio do reino para confundir quem olha para o reino e não consegue diferenciar uma coisa da outra.
 
2. Eles esão inseridos no reino para causar confusão. O diabo quer enganar a todo custo as pessoas e tentar fazer com que elas cheguem à fatídica conclusão que: se existe gente boa fora e dentro da igreja, que vantagem Maria leva estando dentro da igreja? Se o reino tem gente boa, mas também tem muito picareta, como eu posso ter certeza que esse negócio de evangelho realmente funciona?
 
3. É natural que haja uma inquietação dos filhos do reino. Não sei você, mas eu já me perguntei várias vezes: Por que Deus não age de uma vez e separa logo os bons dos ruins? Os cristãos não deveriam ser pessoas acima da média? Por que existe tanto escândalo? Por que o Senhor não dá um basta nisso de uma vez por todas? E nesta angústia que nos sobrevêm, tentamos às vezes separar à força o joio do trigo. Usamos até a "autoridade" da igreja para provocar esta separação "santa", e na maioria das vezes sempre causamos dor e perdas irreparáveis. Isto acontece porque no reino não se consegue avaliar o que está por dentro da terra; as raízes se interligam e se conectam em um emaranhado histórico e cultural onde qualquer prejuízo afeta todo o campo. Quando um joio que era tido como trigo cai, toda a plantação é afetada porque nossa visão de reino é muito limitada. Dito isto vamos ao próximo ponto
 
4. Não estamos aptos para fazer esta separação. Na parábola, os servos estão impacientes enquanto o senhor da terra mostra uma aparente tranquilidade. Esta tranquilidade não quer dizer que ele não se importa com o trabalho sujo do inimigo no seu campo. Quer dizer que ele sabe exatamente como agir para reparar este dano. Esta informação deve tranquilizar os servos, visto que tudo está sob o controle do senhor da terra. O único erro que não podemos cometer é querer separar antes da colheita uma planta da outra. Acreditem, o estrago será maior do que deixar as duas crescerem ao mesmo tempo.
 
5. Tanto o joio quanto o trigo vão crescer. Embora esta não seja a melhor das notícias, Jesus nos avisa para que não percamos a esperança e para que não caiamos no erro de achar que tudo está perdido. Quanto mais o reino de Deus se espalha, mais joio vamos ver crescendo junto, no mesmo terreno. O agravante desta história é que à primeira vista as duas plantas são praticamente idênticas e por isso quanto descobrimos que este trigo é um joio a decepção se torna ainda maior. Jesus não vai nos poupar dessa decepção, mas vai nos dar discernimento e graça para suportar esta situação. O que Ele nos garante é que a separação um dia vai acontecer.
 
6. E esta separação se dará somente no final dos tempos. Não adianta o homem querer antecipar a colheita, porque assim como a plantação precisa respeitar o ciclo natural de crescimento, os filhos do reino precisam respeitar o tempo determinado por Deus. Antecipar a colheita implica em dor, perdas e sofrimento dos quais Jesus quer nos poupar. A igreja de Jesus não foi chamada para separar, mas para unir. Quem irá separar são os anjos de Deus, não a igreja.
 
E assim Jesus quer nos mostrar porque o mal ainda prospera no mundo, porque tem tanto "cristão" cometendo iniquidade e escandalizando; porque há tanta injustiça mesmo no meio do reino. Aos filhos do reino cabe esperar o dia justo e fazer resplandecer a luz de Cristo. Por mais que às vezes seja difícil enxergar, Deus ainda está no controle da sua igreja, expandindo seu reino e no tempo certo fará a separação final.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

ASSIM É O REINO...

Ele prosseguiu dizendo: "Acontece com o Reino de Deus assim como com um homem que lança a semente sobre a terra. Noite e dia, quer ele durma quer se levante, a semente germina e cresce, embora ele não saiba como. A terra por si própria produz o grão: primeiro o talo, depois a espiga e, então, o grão cheio na espiga. Logo que o grão fica maduro, o homem lhe passa a foice, porque chegou a colheita". Novamente ele disse: "Com que compararemos o Reino de Deus? Que parábola usaremos para descrevê-lo? Acontece com o Reino de Deus assim como com um grão de mostarda, que, quando plantada, é a menor semente de todas. No entanto, plantada, ela cresce e se torna a maior de todas as hortaliças, com ramos tão grandes que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra". Marcos 4:26-32

Os judeus enxergavam o reino de Deus como um reino político, nacionalista e local. Neste reino, todo Israelita acreditava que, definitivamente, Deus restauraria a liberdade plena de Israel que incluia obviamente a posse do seu território, a terra dada por Deus.
O tempo passou e hoje muita gente entende reino de Deus apenas em um sentido escatológico, quando por fim Jesus reinará sobre todas as nações juntamente com seus santos em uma esfera totalmente espiritual.
O reino sobre o qual Jesus pregou não é nem uma coisa e nem outra, ou talvez seja todas as coisas juntas. O reino é, está sendo e será. O reino foi inaugurado por Jesus, continua sendo manifestado pela Igreja e será no futuro concretizado de forma completa e perfeita.
O problema de pensar em reino como os judeus tira o toque sobrenatural do reino que diz respeito ao seu crescimento e à sua evolução, e o problema de pensar em reino como muitos fazem hoje, espiritualizando-o completamente, tira a beleza do viver o reino de uma forma comum e humana, como Jesus viveu.
Nesta parábola Jesus não trata da forma do viver este reino, ele vai fazer isto em outros textos. Neste texto Jesus nos mostra como este reino se desenvolve, como ele vai crescendo até se transformar no reino escatológico.
Jesus estabelece uma regra irônica para o crescimento deste reino. Ao invés de usar de um sistema de multiplicação extremamente eficiente para que a medida escatológica do reino cheguasse o mais breve possível, Ele usa de um sistema aparentemente vagaroso e ineficaz à nossa razão.
Olhando de forma lógica, o reino que Jesus estava inaugurando não tinha grandes chances de sucesso. Os homens de respeito da sociedade da época eram extremamente contrários aos ideais do reino de Jesus. As pessoas convocadas para fazerem parte deste reino eram pessoas de um passado extremamente duvidoso. A própria família de Jesus a princípio não entendeu o que Ele fazia e começou a jogar no time adversário. Enfim, tudo conspirava contra.
Então, para tranquilizar seus discípulos, Jesus vem mostrar que o seu reino era assim mesmo. A princípio não tinha muita coisa que o qualificasse como bem sucedido, mas seu final seria glorioso. E por isso não tinha e não tem nada que o homem ou qualquer ser deste universo faça para atrapalhar o destino que Deus planejou para a raça humana. Tudo está traçado e tudo está sob controle apesar das aparências.
A semente foi lançada, o reino foi inaugurado e sua concretização está programada. E quando isso acontecer, Jesus passará a foice e fará a separação do joio e do trigo.
Por enquanto, a única coisa que podemos ver deste reino são sementes, tão pequenas que parecem insignificantes. Tão inertes que parecem mortas. Mas são estas sementes, cada pequena ação que fazemos em pról do reino, são elas que frutificarão no fim das contas. São estas sementes que formarão a grande árvore sob a qual os povos da Terra habitarão.
Assim é o reino de Deus; a gente não vê, não percebe, mas ele continua crescendo e sendo semeado. Em cada esquina, em cada conversa, em cada abraço, em cada gesto de amor cristão, lá está a semente sendo lançada.
Desconfie dos grandes "booms" de crescimento que se vêem por aí, desconfie dos crescimentos em progressão geométrica porque aparentemente o reino não cresce assim; pelo menos esta não é a regra.
Por isso não desanime diante do cenário que se nos coloca. Deus está e sempre estará trabalhando por detrás dos bastidores e no fim vai dar tudo certo.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

SER LUZ NÃO É UMA ESCOLHA

"Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus". Mateus 5:14-16

Ser luz não é uma opção para aqueles que um dia decidiram seguir a Cristo. Ser luz é inerente, faz parte da essência do cristão, não tem como ser diferente.
A diferença está em como essa luz será irradiada.
O cristão está posto no mundo como uma cidade sobre um monte. Impossível não ver, impossível não notar. Ela está lá como referencial; todas as coisas estão perto ou longe da cidade sobre o monte.
- Onde fica aquele rio? Perto da cidade sobre o monte.
- Onde fica aquela floresta? Próximo à cidade sobre o monte.
Referencial. Assim é o cristão.
- Como deveria ser o procedimento de um homem ou mulher honestos? O cristão é o referencial.
- Como deveria ser o procedimento de conduta e integridade? O cristão é o referencial.
O problema é quando o referencial que o cristão mostra ser é ruim. Inevitavelmente a luz do cristão brilhará, mas se o brilho for obscuro, ao invés de irradiar luz, irradiará trevas. Se a luz que há em ti são trevas, quão grande serão tais trevas. Não tem como ser diferente.
O cristão não pode passar despercebido, visto que ele está posto como uma cidade sobre um monte ou como um lustre na sala. E por isso, a grande responsabilidade de brilhar a luz de maneira certa.
Costumo dizer que o cristão, verdadeiramente cristão, não tem escolha, não tem volta, não tem como abdicar de sua condição de filho de Deus. Deus não abre mão daquele que um dia se decidiu por Ele. Esta pessoa está segura em Deus.
Esta é uma boa notícia, mas também uma grande responsabilidade; ser luz. E não dá nem pra ser sombra, meio claro e meio escuro, ou é luz, ou é treva.
O mundo espera ver luz, porque trevas ele já vê lá fora. O mundo espera um referencial, porque todos os referenciais cairam por terra no nosso pós-moderno modo de viver.
O mundo espera ver Cristo nas minhas e nas tuas atitudes. Seja luz. Brilhe a luz.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

ESPERANÇA EM MEIO AO CAOS

E outra vez começou a ensinar junto do mar, e ajuntou-se a ele grande multidão, de sorte que ele entrou e assentou-se num barco, sobre o mar; e toda a multidão estava em terra junto do mar. E ensinava-lhes muitas coisas por parábolas, e lhes dizia na sua doutrina:
Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. E aconteceu que semeando ele, uma parte da semente caiu junto do caminho, e vieram as aves do céu, e a comeram; E outra caiu sobre pedregais, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque não tinha terra profunda; Mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou-se. E outra caiu entre espinhos e, crescendo os espinhos, a sufocaram e não deu fruto. E outra caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu; e um produziu trinta, outro sessenta, e outro cem. E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Marcos 4:1-9

De acordo com Joachim Jeremias esta parábola, diferente de sua costumeira interpretação, deveria ser vista como uma parábola escatológica. Isto quer dizer que provavelmente Jesus a pronunciou em um sentido não alegórico como sempre temos ouvido.
Olhando por este prisma, Jesus nos leva a um cenário de caos. O homem da terra, sabido das coisas da terra como costuma ser, sai a semear. E conforme a semente vai caindo, vai se formando o caos. Nenhum resultado, nenhum sucesso, tudo parece fracassar. A que cai à beira do caminho não vinga. A que cai no pedregulho vinga mas por não ter raíz logo morre. A que cai entre espinhos é sufocada por estes. Olhando assim até parece que este homem da terra está fazendo um péssimo trabalho e que não entende muito do seu ofício de plantar.
No coração dos ouvintes de Jesus nasce uma agonia porque à medida que Jesus vai narrando este cenário de fracasso, eles vão imaginando o resultado final: fome, miséria, escassez.
Jeremias associa esta parábola ao reino. E é bem assim mesmo que nos sentimos quando vemos o que estão fazendo com a Palavra.
Os cristãos sérios, verdadeiramente convertidos e que têm sua fé alicerçada em Jesus e não em coisas, não têm receio de afirmar que vivemos um cenário caótico dentro dos arraiais cristãos.
Um evangelho equivocado e pernicioso tem sido pregado nos meios de comunicaçãoe em muitas igrejas e que ensina as pessoas a viverem um relacionamento de barganha com Deus. Se eu fizer isso, aquilo ou aquiloutro, Deus vai me abençoar. Se eu fizer essa campanha, corrente, promessa, Deus vai retribuir. Evangelho de troca. Deus não age desta maneira. Deus age por graça.
Quando vemos este cenário ficamos como os ouvintes de Jesus, perplexos e desanimados porque tudo indica que o fim será triste.
De repente Jesus muda drasticamente o cenário e diz que algumas sementes cairam em solo fértil, e essas produziram, tanto, mas tanto, que superaram em muito aquelas que não produziram.
E é nesta esperança que reside toda a beleza da parábola. Apesar da improbabilidade, Jesus afirma que no fim das contas o reino vai ganhar e os frutos serão tantos que ninguém se lembrará do aparente início tímido que teve a plantação de Deus.
Esta é uma mensagem de esperança para aquele que acha que a mensagem de Jesus está perdendo. Para aquele que acha que tem mais gente perdida do que salva. Para aquele que acredita que o evangelho falhou. Jesus diz que não.
Simplesmente semeiem, plantem, porque o crescimento pertence a Ele.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

SACO VAZIO NÃO PÁRA EM PÉ

E, quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para a minha casa, de onde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má. Mateus 12:43-45

Jesus faz esta declaração aos judeus que o haviam acusado de expulsar demônios pelo poder do próprio demônio. Apesar disso, Jesus não está dando nenhuma aula de demonologia. Jesus não está tampouco querendo dizer que aquele que se "desvia" recebe oito demônios dentro dele e muito menos querendo provar que espíritos vagam por lugares desertos.
Jesus está ensinando que uma vida vazia de Deus está voluntariamente caminhando para uma situação de animalidade.
O judeu achava que o deserto era habitação de demônios e por isso Jesus usa esta metáfora para explicar a situação de um homem que decidiu se esvaziar de Deus.
A rejeição daqueles judeus para com Jesus os deixaram em uma situação de esvaziamento de Deus tão grande que seu estado de apatia pelas coisas de Deus chegara a um ponto irreversível. Nada pior que deixar o coração vazio. Sem Deus nossas tendências e comportamentos mais primitivos vêm à tona e revelam nossa real natureza humana.
A situação daqueles judeus era ainda pior. Eles haviam provado a revelação de Deus através da herança abraâmica, e agora de forma especial estavam provando a revelação do próprio Deus em pessoa, na pessoa de Jesus. Mas quando decidiram fechar os olhos e ouvidos para a mensagem do Cristo, criaram dentro de si um vazio existencial tão grande que suas vidas tornaram-se piores do que a vida da pessoa mais endemoninhada que pudesse existir.
A vida daquele que decidiu seguir a Cristo precisa necessariamente estar cheia do Espírito Santo e assim, frutificar para Deus.
Um endemoninhado é controlado pelo mal, age segundo suas tendências mais selvagens e perde todo senso de equilíbrio que o faz viver em sociedade. Assim é aquele que decidiu se esvaziar de Deus. Portanto, assim como disse o apóstolo, enchei-vos do Espírito!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

HÁ PECADO SEM PERDÃO?

Trouxeram-lhe, então, um endemoninhado cego e mudo; e, de tal modo o curou, que o cego e mudo falava e via. E toda a multidão se admirava e dizia: Não é este o Filho de Davi? Mas os fariseus, ouvindo isto, diziam: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios.
Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá. E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino? E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam então vossos filhos? Portanto, eles mesmos serão os vossos juízes. Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus.
Ou, como pode alguém entrar em casa do homem valente, e furtar os seus bens, se primeiro não maniatar o valente, saqueando então a sua casa? Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.
Portanto, eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro.
Mateus 12:22-32
 
A questão mais importante aqui é na verdade a libertação do suposto endemoninhado. Alguém que tinha olhos mas não via, que tinha língua mas não falava, só poderia mesmo era estar com o demônio no corpo. E nesta condição ele era mais um perdido entre os filhos de Israel. alguém que ninguém sabia muito bem o porquê, havia sido rejeitado e esquecido por Deus. Alguém que cruzou o caminho de Jesus.
Jesus não pôde deixar aquele homem naquela condição e o  restaura retirando as marcas que o tornavam impuro e indigno. Se ele havia sido rejeitado e amaldiçoado por Deus, apenas Deus poderia tirá-lo daquela situação, assim pensavam os judeus. E quando Jesus retira-o daquela situação de desgraça, logo a conclusão mais óbvia seria de que Deus estava visitando o seu povo com graça.
Mas esta conclusão não era tão óbvia assim para aquela turma de legalistas que só estavam arranjando um meio de desmascarar Jesus. Pra gente assim, nem se o próprio Deus descesse do céu e falasse com eles, eles creriam. Estavam cegos porque decidiram tapar os olhos para o que Deus estava fazendo. Imputaram o milagre da graça e da salvação à Satanás.
Este texto não está falando das vezes em que você questionou se esse ou aquele camarada agia ou age através de Deus ou não. Esse texto não o está proibindo de desconfiar das coisas "milagrosas" que acontecem. Este texto não o está privando de provar os espíritos para ver se provém de Deus ou não. Este texto fala de algo muito mais sério. Dizer convictamente que quem salva é o diabo. Dizer que quem liberta é Satanás. Foi isso que disseram de Jesus.
Se a condição daquele homem, que era judeu, o colocava distante de Deus e longe da comunhão com Ele, então somente Deus tinha poder para fazê-lo retornar à comunhão, e assim Deus o fez através de Jesus na virtude do Espírito Santo.
O diabo veio para matar, roubar e destruir e Jesus veio para nos dar vida. E esta vida, que é a regeneração promovida pelo Espírito Santo não pode ser outorgada ao diabo. A troca destes papéis culmina tragicamente no pecado sem perdão, visto que a pessoa de forma incisiva e declarada nega a salvação que só Jesus pode dar.

terça-feira, 17 de julho de 2012

A TRUPE DE JESUS

"E aconteceu, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e os doze iam com ele, e algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com seus bens. " Lucas 8:1-3

Este texto é fantástico. Até poderia-se passar por uma narrativa comum e quase sem significado, mas não é. Tem propósito e tem porquê cada detalhe destes 3 pequenos versos colocados por nosso médico querido, o Lucas. Alías, só mesmo o Lucas para ter uma visão tão perspicaz como esta. Desculpem-me os legalistas, mas acho que Mateus jamais teria um olhar como este.
Não sei se você consegue perceber, mas a trupe de Jesus não era nada recomendável. Alí tinha de tudo: cobrador de imposto, pescador briguento, homens de temperamento trovejante, uma ex-endemoninhada (e põe demônio nisso), uma mulher envolvida com o alto escalão do poder político-religioso de Israel, pobres, ricos, até traidor tinha.
Não creio que algum pastor ousaria sair por aí anunciando a boa notícia que o reino de Deus já havia chegado com uma turma dessas. Para olhares farisaicos, esse povo representava um marketing muito negativo para a missão de qualquer evangelista, mas não para Jesus.
Por mais contraditório que possa parecer, esse era exatamente o marketing que Jesus queria passar andando com esse bando.
Permita-me devanear um pouco aqui. Imagino Jesus andando e dizendo para as pessoas que encontrava nas ruas:
- Olha, tenho uma boa notícia pra você - o reino de Deus já chegou.
- Como assim já chegou? Como você pode provar o que está dizendo?
- Bom, basta olhar para minha trupe. Esta gente está me seguindo.
E então Jesus começa a fazer as apresentações:
- Esse é Pedro, ex-pescador, esse é Mateus ex-publicano, esses são Tiago e seu irmão João, pessoas que tinham um temperamento bem explosivo. Ah! essa é Maria Madalena ex-endemoninhada e essa é Joana, mulher de um oficial de Herodes, e este...e esta...
- É para este tipo de gente que o reino de Deus já chegou e você pode fazer parte dele se quiser.
Extraordinário. Jesus não andava com os religiosos, os engravatados, os doutores, os de reputação acima de qualquer suspeita. Jesus andava com gente da pior espécie que havia sido regenerada por ele, mas que continuava em um processo de restauração. E essa gente fazia parte da mais perfeita estratégia de marketing jamais vista na história. Eles eram a prova viva e inequívoca de que a boa notícia que Jesus estava anunciando realmente era verdade e funcionava. Se funcionou para aquele tipo de gente, pode funcionar para mim também; esta é a lógica.
Jesus não tinha vergonha de andar com eles. Jesus os expõe como garantia de que o seu evangelho tinha, tem e sempre terá poder para transformar qualquer criatura.
E desde então esta trupe tem aumentado. Marias, Pedros, Fábios, muitos nomes têm se juntado a este grupo porque resolveram aceitar a boa notícia de Jesus e andar com Ele, sem medo de mostrarem quem foram, porque têm a convicção de que não mais são o que eram. E como o Apocalipse nos mostra, é uma multidão que ninguém pode contar.
Fazer parte da trupe de Jesus é conviver com gente assim, os "ex-ninguém" deste mundo, e chamá-los de irmãos, porque é isso que o evangelho nos faz, une pobre e rico, preto e branco, homem e mulher, e quem não aceita esta "misturada" toda, infelizmente não pode fazer parte da caravana.
E a caravana continua passando e convidando, mulheres e homens que queiram, através de suas vidas, levar alegria e riso àqueles que estão tristes e caídos pelo caminho.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

QUE AMOR É ESSE?

Lucas 7:36-50 "Convidado por um dos fariseus para jantar, Jesus foi à casa dele e reclinou-se à mesa. Ao saber que Jesus estava comendo na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma ‘pecadora’, trouxe um frasco de alabastro com perfume, e se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume.
Ao ver isso, o fariseu que o havia convidado disse a si mesmo: "Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: uma ‘pecadora’ ". Respondeu-lhe Jesus: "Simão, tenho algo a lhe dizer". "Dize, Mestre", disse ele. "Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta. Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais? " Simão respondeu: "Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior". "Você julgou bem", disse Jesus.
Em seguida, virou-se para a mulher e disse a Simão: "Vê esta mulher? Entrei em sua casa, mas você não me deu água para lavar os pés; ela, porém, molhou os meus pés com as suas lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Você não me saudou com um beijo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus pés. Você não ungiu a minha cabeça com óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés. Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama". Então Jesus disse a ela: "Seus pecados estão perdoados". Os outros convidados começaram a perguntar: "Quem é este que até perdoa pecados? " Jesus disse à mulher: "Sua fé a salvou; vá em paz".

Este texto é um dos meu favoritos no Novo Testamento, juntamente com a parábola do filho pródigo e o evento do encontro com a mulher samaritana. Favorito porque Jesus, mais uma vez, choca os legalistas com sua peculiar ironia e loquacidade. Como disse a Tatiana ontem no estudo, palavras suaves mas de profundo impacto.

Jesus vai a uma festa convidado por um fariseu que deve ter se encantado com o discurso do Mestre, mas que ainda cultivava dúvidas de quem ele realmente era. De repente aparece uma figura estranha com gestos estranhos e nada comuns. Uma figura sem nome, indesejada, rejeitada e desprezada. Apenas um codinome: pecadora.

Isto a diferenciava do resto, não porque o resto não fosse também pecador, mas porque não se viam desta maneira. O Simão, todo cheio de si, fariseu, conhecedor e cumpridor da lei, se sentia superior até a Jesus, visto que não fez os costumeiros rituais de boas vindas: beijo, lava pés e o derramar do óleo sobre a cabeça.

Mas a pecadora, provavelmente uma prostituta, fez as vezes do anfitrião. Ao chorar sobre os pés de Jesus, revela toda a sua gratidão diante da boa nova apresentada a ela. Ao retirar seu véu para enxugar os pés de Jesus com seu cabelo, revela para todos os convidados e principalmente para Jesus o símbolo da sua vergonha e de um passado que ficara para trás. Ao ungir os pés de Jesus com o perfume, provavelmente fruto de sua prostituição, entrega o que de mais valioso possuía, mas que também não precisaria mais ser usado já que sua vida de miséria chegava ao fim. Ao beijar seus pés, ela demonstra uma gratidão de vida, como se Jesus a tivesse salvo da pena de morte, o que era realmente verdade.

Mas o olhar preconceituoso do legalista não compreende nada disso e ao invés de se alegrar, critica a atitude de Jesus que se deixa tocar por aquele tipo de gente. Jesus, através de uma parábola muito conhecida, mostra a Simão dois tipos de devedores: um que devia pouco (ou pelo menos achava que devia pouco) e outro que devia muito. A conclusão surpreendente vem depois. Não importa se você acha que deve pouco ou muito, diante de Deus sua dívida é impagável. Nada do que você faça liquida a dívida que tem com Deus.

O segredo não está no tamanho da dívida, mas em entender que independente do tamanho, só Deus pode perdoá-la. A prostituta entendeu, o Simão não.

E como diria o Joachim Jeremias "assim é Deus". Um Deus que se deixa tocar, porque neste toque há restauração e cura. Um Deus que não vê nem méritos e nem créditos, mas vê necessidades que só Ele pode suprir. Um Deus que se interessa pela escória da humanidade, enquanto a "igreja" a rejeita. E por ser Deus assim tão bom, Ele causa tanta indignação nos certinhos e nos legalistas que não se acham tão pecadores assim.

Só pode demonstrar tanta gratidão assim, quem um dia sentiu o alívio de ter seus pecados perdoados. Quem não sabe que tem pecados, nem é perdoado e nem perdoa, porque entende tudo em uma escala de hierarquização, e por isso se acha justo, e por isso acha o outro injusto e imerecedor. Esquece que para Deus não tem escala e não tem tamanho, mas tem graça pra quem quiser.

Assim é Deus e assim é o amor de Deus. Citando o Stênio Marcius: um amor tão forte, mais que o inferno e a morte, são torrrentes que arrebentam o chão. Mais fácil secar os mares, apagar a estrela antares, que arrancar o amor do seu coração!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O SUSSURRAR DE DEUS


Senhor, o teu silêncio dói demais na minha alma
tua ausência é agonia, arranca o sono e a calma
só queria neste instante ouvir os teus ternos passos
sem os quais a minha vida vira louco descompasso

Mas parece, é o que sinto, quanto mais espero e almejo
mais longa e cruel se faz a noite da minha vida
tua presença é só miragem em meu longo desespero
semelhante à ferida aberta da despedida

Neste instante a tua palavra grita forte aos meus ouvidos
não tenha medo ainda que só haja morte e escuridão
sou eu e não é outro que caminho e estou contigo
descansa agora e aquieta seu cansado coração

Lembra que na tua história tem razão e tem porquê
meus planos são bem maiores que tua tênue visão
na jornada da tua vida quem dirige é o meu querer
por isso sossega agora, é vã a preocupação

Tal qual madeira bruta nas mãos do carpinteiro
se deixa modelar, aceite a plaina e o formão
sou eu que te desenho, te refaço por inteiro
tua vida e teu destino tenho eu em minhas mãos

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O SERMÃO DO MONTE: A ORAÇÃO DO REINO

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á.
E qual de entre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra?
E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente?
Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?
Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.
Mateus 7:7-12

Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar; digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister.
E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;
Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á.
E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente?
Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?
Lucas 11:5-13


De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?
Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis.
Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.
Tiago 4:1-3


Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.
Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.
Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado.
Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.
Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.
Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.
Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.
Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.
João 15:1-9

O texto base é o de Mateus, que dá continuação ao que estamos estudando nas últimas semanas. Coloquei outros textos porque acho relevante entendermos alguns aspectos da oração que podem ser mal compreendidos e com isso gerar decepção.

O primeiro aspecto importante no texto é que devemos pedir. Jesus nos autoriza a pedir coisas materiais e espirituais. Pedir não implica em falta de fé, muito pelo contrário, pedimos porque sabemos que somente Deus pode nos dar aquilo que precisamos. Quando pedimos mostramos dependência de Deus e declaramos que somos incapazes por nós mesmos de realizar ou conseguir algo.

Muitas pessoas não pedem porque se acham indignas. Acham que não merecem nada além do que já têm e por isso não pedem. Este é o discurso, mas a realidade é que não pedem porque não tem intimidade suficiente com Deus para conhecê-lo e saber que Ele sente prazer quando seus filhos pedem. Não pedem porque desconfiam de sua fidelidade a Deus e pensam que pelos seus pecados, Deus não os ouvirá. Mas a verdade é que cometendo ou não pecados (óbvio que é impossível não cometê-los) Deus nos agracia com bens de qualquer forma, porque não é por merecimento, mas por graça que Ele nos concede aquilo que necessitamos. E é neste espírito que devemos chegar a Deus em oração, não deixando que nossos pecados nos impeçam de pedir a Deus, e não deixando que a vã idéia de que merecemos mais do que outros nos dê a arrogância de achar que Deus tem que nos atender. A graça independe do que fazemos ou deixamos de fazer, simplesmente porque é graça.

Muitos não pedem porque acreditam que sendo Deus onisciente, Ele não necessita de que peçamos porque já sabe com antecedência todas as coisas. Este argumento é interessante porque o próprio Jesus declara no capítulo 6 de Mateus, verso 32 que o Pai sabe do que necessitamos, então por que pedir?
Não pedimos por causa de Deus ou para que, através de nossa oração Ele nos atenda, pedimos por nós mesmos. Somos nós que precisamos pedir, somos nós que precisamos orar. Deus não precisa de nossa oração para agir, mas nós precisamos desse meio de comunhão com Deus para mantermos nossa fé viva.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

HAVERÁ UM TEMPO

"Encontrei este poema em um blog e achei facinante. Com toda certeza este é um vislumbre de como será o reino de Deus. Que assim seja!

Haverá um tempo em que tudo será bom.


Haverá um tempo onde tudo será Luz.

Onde as pessoas serão sempre amáveis...

Onde todos cantarão o mesmo tom.

Em que bendirão a chuva e o vento,

Porque abrigo não há de faltar.

Os sonhos serão realizáveis...

A dor, apenas antigo tormento.


Haverá vida brilhante...

Haverá paz sublime.

As bocas estarão sempre em festa...

Enfeitadas com um sorriso contagiante.

Os olhos só enxergarão o que for cor...


E tudo será belo.

Como a essência de uma flor.

Das lágrimas, só serão derramadas

As que forem de alegria e felicidade.

Sem fome e sem sede no corpo e na alma.

Sei e confio que há de chegar esse dia...


Onde haverá unidade...

Onde o amor invadirá.

Então, Deus sorrindo dirá:

- Eis enfim a Humanidade.

Retirado do blog: http://liztarot.blogspot.mx/2011/09/havera-um-tempo-em-que.html

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O SERMÃO DO MONTE: MAMOM OU DEUS?

Mateus 6:19-34
Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam.
Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam.
Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.
"Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz.
Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são!
"Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro".
"Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer ou beber; nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante do que a comida, e o corpo mais importante do que a roupa?
Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?
Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?
"Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem.
Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles.
Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé?
Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer? ’ ou ‘que vamos beber? ’ ou ‘que vamos vestir? ’
Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas.
Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas.
Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal".

Jesus está falando neste texto da efemeridade das coisas deste mundo, de quão passageiras e frágeis elas são. Mais uma vez Jesus está tratando do coração do homem e mostrando de que tudo o que o homem faz e o modo como ele vive está intimamente relacionado com os desejos de seu coração. E como já vimos na semana passada, coração aqui é apenas uma metáfora do nosso intelecto. Para o judeu as emoções e intenções mais profundas nasciam no coração do homem; para eles o coração era o órgão do sentimento e a partir destes sentimentos reagiam ao mundo. Óbvio que precisamos entender isto como metáfora porque sabemos que tudo o que somos, pensamos e sentimos é processado pelo cérebro e tudo aquilo que o cérebro processa, é nada mais nada menos que as informações que ele recebe através dos sentidos. E este conceito é muito importante neste texto de Jesus.

No primeiro ponto Jesus contrapõe a efemeridade das coisas materiais com a eternidade das coisas espirituais. Do valor e da importância que damos às coisas materiais, daquilo que é palpável, daquilo que se pode corromper, e do valor e da importância que deveríamos dar às coisas espirituais, que Ele chama de tesouros do céu.

Primeiro precisamos entender que Jesus não está dizendo que é pecado fazermos previdências ou economias que nos deem uma garantia no dia de amanhã. Provérbios 6:6 diz o seguinte: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio”. O que Deus está dizendo aqui é nada mais nada menos que: trabalhe no dia bom para que tenha o que comer no dia mau. É isto que a formiga faz, trabalha no verão, ou seja, economiza, poupa, investe, para que tenha o que comer no inverno. Então este texto em hipótese alguma está dizendo que é pecado economizar, poupar, investir, garantir o futuro. Este texto está tratando, como já dissemos, do coração do homem. Você investe pra quê? Para ter uma garantia para o futuro? Para ter meios de ajudar o necessitado? Para que sua esposa tenha uma vida digna se você morrer antes dela? Ou você investe para ter simplesmente, porque é isso que te afirma como pessoa? Você controla seu dinheiro e seus bens ou você é controlado por eles? Você só se considera uma pessoa digna diante da sociedade porque você tem muito dinheiro, ou você construiu sua dignidade com trabalho e vida honrosa?

Jesus está querendo abrir nosso coração para nós mesmos para que através de uma autoanálise de nossas intenções, nós consigamos chegar à conclusão do que é que está por trás destas intenções.

Dentre muitas coisas que Jesus está querendo nos ensinar, uma delas é nos livrar da decepção do infortúnio. Por mais que uma pessoas tenha bens, posses e poder, um dia isto tudo pode desaparecer; nada que é material dura pra sempre. Quando falo nisso, me lembro de muitas famílias nobres que nosso país já teve e por causa de brigas entre parentes e má administração perderam praticamente tudo. Olhe para alguns países da Europa. Em Portugal por exemplo, pessoas que tinham muitos imóveis, hoje estão tentando vender tudo a preço de banana porque não valem mais nada. O seu sustento, a sua forma de sobrevivência simplesmente acabou.

Se o nosso coração e tudo aquilo que temos está baseado tão somente nas coisas que possuímos corremos um grande risco de nos decepcionarmos e, no extremo da decepção alguns não suportam e optam pelo suicídio, porque tudo o que possuíam eram coisas e coisas não duram para sempre.

Jesus quer nos livrar deste desastre de viver uma situação em que tudo o que dava sentindo à nossa vida se acabou.

terça-feira, 6 de março de 2012

NEM TODO O QUE ME DIZ

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” Mateus 7:21
O judeu orgulhava-se de ser filho da aliança. E o sinal que o colocava neste tão importante “status” era a circuncisão. No oitavo dia, todo macho israelita passava pelo procedimento “cirúrgico” da circuncisão. Este ato era tão importante que até o sábado poderia ser quebrado em razão deste. Era a entrada oficial de mais um membro na comunidade escolhida por Deus.
O problema do judeu era que esta noção de filho de Abraão o deixava em uma condição de alienação com o mundo. Ele estava tão seguro dentro de sua condição privilegiada que muitos acabavam vivendo uma religiosidade apenas de aparência; seu discurso não condizia com sua prática de vida.
Jesus combateu ferozmente a hipocrisia dos religiosos de sua época, daqueles que faziam da religião apenas um conjunto de rituais sem vida e sem propósito, dos quais Deus permanecia longe.
Neste texto Jesus mostra que aquele que diz e não faz não entrará no reino dos céus, mas aquele que diz e faz, esse sim tem entrada garantida. O cristianismo de Jesus não é uma religião de contemplação somente, apesar desta ter o seu papel. O cristianismo tampouco é uma religião de transcendência espiritual onde, através de técnicas, se consiga alcançar um estado de pureza perfeita. O cristianismo que Jesus ensinou e viveu é uma religião de prática de vida, onde o amor a Deus e ao próximo é a base de tudo.
No cristianismo de Jesus, não se espera a perfeição para agir. Agi-se mesmo que no meio do caminho haja tropeços e quedas. Age-se mesmo sabendo-se imperfeito e indigno. Age-se porque a verdadeira fé se concretiza com obras e não com discursos.
O cristianismo de Jesus vai muito além dos templos e reuniões; entra no mundo e faz parte deste como agente transformador.
É nos templos que dizemos Senhor, Senhor, mas é no mundo que fazemos a vontade do Pai.
Quando pregamos sobre o amor e a misericórdia, mas não vivemos estas experiências na prática somos hipócritas, da mesma qualidade que Jesus se referiu no texto, e corremos o sério risco de estarmos longe do reino.
Fazer parte do reino implica necessariamente a identificação e o comprometimento com este reino. Jesus quer libertar o mundo do pecado e da opressão e ele nos incumbiu desta tão honrosa tarefa que só vamos abraçar, quando verdadeiramente libertarmos nossa mente para o mundo e suas necessidades, tal qual Jesus fez.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Deus Fugiu da “igreja”

"O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas” (Atos 17:24)
“Pois somos santuário do Deus vivo. Como disse Deus: "Habitarei com eles e entre eles andarei; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo"” (2 Coríntios 6:16)
“...assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros” (Romanos 12:5)
Parece uma afirmação um tanto chocante, mas é a mais pura verdade. Deus não está mais na “igreja” como nós a conhecemos, na sua forma organizada e institucionalizada, e temo que talvez nunca tenha estado. Como eu já disse em outros textos, a história da igreja cristã não é lá muito digna de orgulho. Cometemos muitos erros, matamos em nome de Deus, fizemos coisas em nome de Deus das quais Deus não se orgulharia nem um pouco. Algumas vezes de forma inocente, mas em outras de forma convicta e cruel.
Mas não é só por isso que Deus fugiu da igreja. Ele fugiu (ou talvez nunca tenha estado) porque não é desta forma que Ele se manifesta ou salva. Não é através da “igreja” que Ele manifesta sua graça, mas sim através da IGREJA, verdadeira, santa, lavada e redimida pelo seu sangue. É assim que Ele sempre se manifestou neste mundo e sempre o fará. A Sua graça é mostrada através de cada membro do seu corpo místico que está espalhado por este mundo. Em cada beco, em cada lar, em cada favela, em cada mansão, e também em cada igreja local, não importa o lugar e sim quem está lá. Sinto decepcioná-lo (a), mas Deus não nos vê como integrantes de uma igreja local, mas integrantes do seu corpo. É isto o que importa.
Você então poderá questionar: Mas e os programas evangelísticos e missionários que foram conduzidos e amparados pelas instituições? Aí é que está, não foram amparados e conduzidos pelas instituições, foram conduzidos por cristãos que entenderam o seu chamado, viram uma oportunidade de atuação no reino e foram à luta. Isto é importante porque se um dia a instituição falir, o que não é nada difícil, pelo menos aos olhos de Deus, estas mesmas pessoas que foram usadas estando dentro das instituições, poderão ser usadas fora delas. A instituição é um mero detalhe.
E por que então fazer parte de uma igreja local? Porque lá encontro meios de manifestar a graça de Deus através da minha vida. Porque lá é um lugar onde aprendo com o outro a respeito do Mestre Jesus. Porque lá existem pessoas que assim como eu entendem o que é ser um pecador salvo pela graça. Porque lá eu posso encontrar pessoas que me ajudarão a levantar quando eu cair. Porque lá deveriam existir pessoas que não me crucificariam quando eu tropeçasse, mas que me ajudariam a me reerguer porque sabem o que significa crucificar a carne todos os dias. Porque lá é um lugar onde eu posso unir forças com gente que pensa como eu e assim fazer brilhar a luz de Cristo neste mundo de escuridão e morte. Enfim, lá é um lugar de aconchego e esperança para todo aquele que, cansado de andar sem Deus, possa encontrar pessoas que o ajudem na caminhada com Jesus.
Mas então por que é importante saber que Deus não se manifesta através de instituições? Porque desta forma, eu consigo me libertar do julgo da instituição e viver de forma livre e espontânea o evangelho de Cristo, onde quer que eu esteja, o que quer que eu faça, dentro e fora da instituição. Sob o peso do manifestar de Deus dentro da instituição, caímos no erro de achar que fora dali não há salvação e não há cristianismo. Equivocamo-nos e pensamos que aquele lugar é santo e nos esquecemos que santo deve ser o nosso proceder. Erramos quando duvidamos da salvação daqueles que por qualquer motivo decidiram deixar a instituição, mas não deixaram Cristo. Erramos quando achamos que missão somente pode ser feita quando amparada e “autorizada” pela instituição,e, assim, desmerecemos qualquer ação missionária não “oficial”. Erramos feio quando valorizamos por demais a instituição, e esquecemos que temos de ser luz e sal em qualquer lugar e a qualquer hora. E que por isso, Deus pode e está salvando fora do “templo”. Que seu amor está sendo pregado pelo meu proceder e não necessariamente pela pregação do domingo no templo.
Quando nos livramos do peso da instituição que nada mais é que um legado católico e antes disso judaico que carregamos dentro do nosso “DNA”, nos livramos também da tolice de achar que o templo é sagrado, a música é sagrada, o culto é sagrado, e descobrimos que na verdade tudo é sagrado porque é exatamente no tudo onde Deus se manifesta. Descobrimos que o mundo é sagrado e que o almoço com nossa família pode ser tão sagrado quanto a ceia do Senhor, se lá manifestamos o amor de Deus. Descobrimos que a hora que passamos brincando ou conversando com nossos filhos ou nosso cônjuge pode ser tão sagrada quanto a hora do culto no domingo, e por aí vai. E neste momento acontece o milagre onde descobrimos que toda a nossa vida precisa ser sagrada e consagrada para Deus. É isso que Jesus queria fazer quando permitiu que o templo de Jerusalém fosse destruído, o véu fosse rasgado, o sacerdócio araônico extinto e o povo dele disperso pelo mundo, mas nós não entendemos direito e refizemos tudo isso; mudamos o nome e reconstruímos nossas torres de babel, onde mais confundimos que explicamos.
Deus fugiu da “igreja” e agora está solto pelo mundo, salvando e manifestando sua graça a quem quiser experimentar.