terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Deus Fugiu da “igreja”

"O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas” (Atos 17:24)
“Pois somos santuário do Deus vivo. Como disse Deus: "Habitarei com eles e entre eles andarei; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo"” (2 Coríntios 6:16)
“...assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros” (Romanos 12:5)
Parece uma afirmação um tanto chocante, mas é a mais pura verdade. Deus não está mais na “igreja” como nós a conhecemos, na sua forma organizada e institucionalizada, e temo que talvez nunca tenha estado. Como eu já disse em outros textos, a história da igreja cristã não é lá muito digna de orgulho. Cometemos muitos erros, matamos em nome de Deus, fizemos coisas em nome de Deus das quais Deus não se orgulharia nem um pouco. Algumas vezes de forma inocente, mas em outras de forma convicta e cruel.
Mas não é só por isso que Deus fugiu da igreja. Ele fugiu (ou talvez nunca tenha estado) porque não é desta forma que Ele se manifesta ou salva. Não é através da “igreja” que Ele manifesta sua graça, mas sim através da IGREJA, verdadeira, santa, lavada e redimida pelo seu sangue. É assim que Ele sempre se manifestou neste mundo e sempre o fará. A Sua graça é mostrada através de cada membro do seu corpo místico que está espalhado por este mundo. Em cada beco, em cada lar, em cada favela, em cada mansão, e também em cada igreja local, não importa o lugar e sim quem está lá. Sinto decepcioná-lo (a), mas Deus não nos vê como integrantes de uma igreja local, mas integrantes do seu corpo. É isto o que importa.
Você então poderá questionar: Mas e os programas evangelísticos e missionários que foram conduzidos e amparados pelas instituições? Aí é que está, não foram amparados e conduzidos pelas instituições, foram conduzidos por cristãos que entenderam o seu chamado, viram uma oportunidade de atuação no reino e foram à luta. Isto é importante porque se um dia a instituição falir, o que não é nada difícil, pelo menos aos olhos de Deus, estas mesmas pessoas que foram usadas estando dentro das instituições, poderão ser usadas fora delas. A instituição é um mero detalhe.
E por que então fazer parte de uma igreja local? Porque lá encontro meios de manifestar a graça de Deus através da minha vida. Porque lá é um lugar onde aprendo com o outro a respeito do Mestre Jesus. Porque lá existem pessoas que assim como eu entendem o que é ser um pecador salvo pela graça. Porque lá eu posso encontrar pessoas que me ajudarão a levantar quando eu cair. Porque lá deveriam existir pessoas que não me crucificariam quando eu tropeçasse, mas que me ajudariam a me reerguer porque sabem o que significa crucificar a carne todos os dias. Porque lá é um lugar onde eu posso unir forças com gente que pensa como eu e assim fazer brilhar a luz de Cristo neste mundo de escuridão e morte. Enfim, lá é um lugar de aconchego e esperança para todo aquele que, cansado de andar sem Deus, possa encontrar pessoas que o ajudem na caminhada com Jesus.
Mas então por que é importante saber que Deus não se manifesta através de instituições? Porque desta forma, eu consigo me libertar do julgo da instituição e viver de forma livre e espontânea o evangelho de Cristo, onde quer que eu esteja, o que quer que eu faça, dentro e fora da instituição. Sob o peso do manifestar de Deus dentro da instituição, caímos no erro de achar que fora dali não há salvação e não há cristianismo. Equivocamo-nos e pensamos que aquele lugar é santo e nos esquecemos que santo deve ser o nosso proceder. Erramos quando duvidamos da salvação daqueles que por qualquer motivo decidiram deixar a instituição, mas não deixaram Cristo. Erramos quando achamos que missão somente pode ser feita quando amparada e “autorizada” pela instituição,e, assim, desmerecemos qualquer ação missionária não “oficial”. Erramos feio quando valorizamos por demais a instituição, e esquecemos que temos de ser luz e sal em qualquer lugar e a qualquer hora. E que por isso, Deus pode e está salvando fora do “templo”. Que seu amor está sendo pregado pelo meu proceder e não necessariamente pela pregação do domingo no templo.
Quando nos livramos do peso da instituição que nada mais é que um legado católico e antes disso judaico que carregamos dentro do nosso “DNA”, nos livramos também da tolice de achar que o templo é sagrado, a música é sagrada, o culto é sagrado, e descobrimos que na verdade tudo é sagrado porque é exatamente no tudo onde Deus se manifesta. Descobrimos que o mundo é sagrado e que o almoço com nossa família pode ser tão sagrado quanto a ceia do Senhor, se lá manifestamos o amor de Deus. Descobrimos que a hora que passamos brincando ou conversando com nossos filhos ou nosso cônjuge pode ser tão sagrada quanto a hora do culto no domingo, e por aí vai. E neste momento acontece o milagre onde descobrimos que toda a nossa vida precisa ser sagrada e consagrada para Deus. É isso que Jesus queria fazer quando permitiu que o templo de Jerusalém fosse destruído, o véu fosse rasgado, o sacerdócio araônico extinto e o povo dele disperso pelo mundo, mas nós não entendemos direito e refizemos tudo isso; mudamos o nome e reconstruímos nossas torres de babel, onde mais confundimos que explicamos.
Deus fugiu da “igreja” e agora está solto pelo mundo, salvando e manifestando sua graça a quem quiser experimentar.