quinta-feira, 12 de julho de 2012

QUE AMOR É ESSE?

Lucas 7:36-50 "Convidado por um dos fariseus para jantar, Jesus foi à casa dele e reclinou-se à mesa. Ao saber que Jesus estava comendo na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma ‘pecadora’, trouxe um frasco de alabastro com perfume, e se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume.
Ao ver isso, o fariseu que o havia convidado disse a si mesmo: "Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: uma ‘pecadora’ ". Respondeu-lhe Jesus: "Simão, tenho algo a lhe dizer". "Dize, Mestre", disse ele. "Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta. Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais? " Simão respondeu: "Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior". "Você julgou bem", disse Jesus.
Em seguida, virou-se para a mulher e disse a Simão: "Vê esta mulher? Entrei em sua casa, mas você não me deu água para lavar os pés; ela, porém, molhou os meus pés com as suas lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Você não me saudou com um beijo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus pés. Você não ungiu a minha cabeça com óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés. Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama". Então Jesus disse a ela: "Seus pecados estão perdoados". Os outros convidados começaram a perguntar: "Quem é este que até perdoa pecados? " Jesus disse à mulher: "Sua fé a salvou; vá em paz".

Este texto é um dos meu favoritos no Novo Testamento, juntamente com a parábola do filho pródigo e o evento do encontro com a mulher samaritana. Favorito porque Jesus, mais uma vez, choca os legalistas com sua peculiar ironia e loquacidade. Como disse a Tatiana ontem no estudo, palavras suaves mas de profundo impacto.

Jesus vai a uma festa convidado por um fariseu que deve ter se encantado com o discurso do Mestre, mas que ainda cultivava dúvidas de quem ele realmente era. De repente aparece uma figura estranha com gestos estranhos e nada comuns. Uma figura sem nome, indesejada, rejeitada e desprezada. Apenas um codinome: pecadora.

Isto a diferenciava do resto, não porque o resto não fosse também pecador, mas porque não se viam desta maneira. O Simão, todo cheio de si, fariseu, conhecedor e cumpridor da lei, se sentia superior até a Jesus, visto que não fez os costumeiros rituais de boas vindas: beijo, lava pés e o derramar do óleo sobre a cabeça.

Mas a pecadora, provavelmente uma prostituta, fez as vezes do anfitrião. Ao chorar sobre os pés de Jesus, revela toda a sua gratidão diante da boa nova apresentada a ela. Ao retirar seu véu para enxugar os pés de Jesus com seu cabelo, revela para todos os convidados e principalmente para Jesus o símbolo da sua vergonha e de um passado que ficara para trás. Ao ungir os pés de Jesus com o perfume, provavelmente fruto de sua prostituição, entrega o que de mais valioso possuía, mas que também não precisaria mais ser usado já que sua vida de miséria chegava ao fim. Ao beijar seus pés, ela demonstra uma gratidão de vida, como se Jesus a tivesse salvo da pena de morte, o que era realmente verdade.

Mas o olhar preconceituoso do legalista não compreende nada disso e ao invés de se alegrar, critica a atitude de Jesus que se deixa tocar por aquele tipo de gente. Jesus, através de uma parábola muito conhecida, mostra a Simão dois tipos de devedores: um que devia pouco (ou pelo menos achava que devia pouco) e outro que devia muito. A conclusão surpreendente vem depois. Não importa se você acha que deve pouco ou muito, diante de Deus sua dívida é impagável. Nada do que você faça liquida a dívida que tem com Deus.

O segredo não está no tamanho da dívida, mas em entender que independente do tamanho, só Deus pode perdoá-la. A prostituta entendeu, o Simão não.

E como diria o Joachim Jeremias "assim é Deus". Um Deus que se deixa tocar, porque neste toque há restauração e cura. Um Deus que não vê nem méritos e nem créditos, mas vê necessidades que só Ele pode suprir. Um Deus que se interessa pela escória da humanidade, enquanto a "igreja" a rejeita. E por ser Deus assim tão bom, Ele causa tanta indignação nos certinhos e nos legalistas que não se acham tão pecadores assim.

Só pode demonstrar tanta gratidão assim, quem um dia sentiu o alívio de ter seus pecados perdoados. Quem não sabe que tem pecados, nem é perdoado e nem perdoa, porque entende tudo em uma escala de hierarquização, e por isso se acha justo, e por isso acha o outro injusto e imerecedor. Esquece que para Deus não tem escala e não tem tamanho, mas tem graça pra quem quiser.

Assim é Deus e assim é o amor de Deus. Citando o Stênio Marcius: um amor tão forte, mais que o inferno e a morte, são torrrentes que arrebentam o chão. Mais fácil secar os mares, apagar a estrela antares, que arrancar o amor do seu coração!

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