segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

NATAL EM EMAÚS - Myrtes Mathias


È natal!
E no natal a gente sempre espera que aconteça um milagre.
Mas, ás vezes, a gente espera, espera e cansa, como os discípulos de Emaús:
– Senhor, é já hoje o terceiro dia, o terceiro mês, o terceiro ano...
Então, de repente, vejo-me passando às mãos do Mestre todas as mágoas, frustrações e dor.
E ele, mansamente, começa a fazer-me lembrar as bênçãos e vitórias alcançadas durante todo o ano, toda a vida: ás vezes sem conta em que o socorro chegou, talvez não como eu havia pedido ou esperado, mas sempre concorrendo para o meu próprio bem.
Enquanto minha alma caminha assim com ele, sua voz, como um acalanto, faz arder meu coração e eu lhe estendo a mão, queixas e murmuração, transformadas num pedido de amor:
– Fica comigo, Senhor!
O dia declina. Já não sou mais jovem, nem forte, nem cheia de ilusões.
O crepúsculo me assusta, me causa pavor:
– Fica comigo, Senhor!
Mas quando suas mãos marcadas, glorificadas, se estendem para partir o pão – que é ele mesmo, minha alma alimentada, agradecida, reconhece que sempre esteve comigo, durante todo o caminho. E a alegria é tanta que quase não dá para crer:
– Eras tu, Jesus! Eras tu, Rabi!
E eu me ajoelho para adorá-lo e para escrever essa estranha mensagem de ressurreição num dia de natal...
E hoje, o terceiro dia, o terceiro mês, o terceiro ano... Que esperava eu?
Não me lembro. Não importa.
O milagre aconteceu!
Há luz ao meu redor, há luz dentro de mim:
Jesus nasceu! Ele vive! Está aqui! Emanuel! Rabi!
Glória a Deus nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor!
O caminho da espera se fez o da esperança:
Deus feito criança nasceu, cresceu, morreu, ressuscitou, cumpriu as promessas, deixou a promessa:
– Este Jesus há de voltar um dia!
E tudo isto é tão lindo, tão pleno, tão consolador, que a gente tem que terminar repetindo com o anjo anunciador:
– Não temais! Eis que vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo:
hoje vos nasceu Jesus Cristo, o salvador!
Vos nasceu – nasceu para nós, cada um de nós, mesmo para os que caminham na direção de Emaús.
Hoje é dia de ressurreição e de advento, dia da renovação do entendimento, que vem em resposta ao meu clamor:
– Fica comigo, Jesus! E Jesus ficou!
Noite feliz! Noite de paz! Noite de amor!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

RETROALIMENTANDO O BEM

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações. 2 Coríntios 1:3-4

O modo de vida que Jesus propôs é um sistema de retroalimentação. Foi assim que Ele quis que fosse porque este é o modo mais produtivo de relacionamento humano. Funciona em qualquer sistema de governo, em qualquer classe social e em qualquer época.
Jesus criou um sistema de cuidado mútuo, onde eu cuido de você e você cuida de mim e todos nós nos cuidamos ao mesmo tempo porque estamos sendo cuidados por Deus. De modo que ninguém deveria passar qualquer necessidade, de espécie alguma. E isto deve se aplicar a qualquer tipo de necessidade, seja ela social, emocional ou financeira.
E à medida em que vamos passando pelas necessidades vamos nos tornando mais aptos para ajudar aqueles que estão ou passarão pelas mesmas necessidades porque teoricamente a experiência nos garantiria alguma vantagem.
Neste sistema aquele que tem mais distribui com aqueles que têm menos. Aquele que passou por uma experiência profunda de luto ajuda aquele que está passando por isso. Aquele que tem a capacidade de ouvir e aconselhar fará àquele que precisa ser ouvido e aconselhado.
Haverá tempos em que não poderei ajudar porque estarei demasiado machucado pela vida e neste momento precisarei de ajuda e de tempo para me curar. No entanto, haverá outros tempos em que poderei compartilhar alguma coisa porque estarei bem com Deus e comigo mesmo.
E a ideia original era que esse sistema se alastrasse e tomasse o mundo, até os confins da Terra.
Neste sistema não dependeríamos do governo ou de qualquer entidade porque quem se ajuda na verdade são pessoas e não órgãos jurídicos.
Este sistema criado por Jesus chama-se evangelho. Não é socialismo ou comunismo como o conhecemos, porque o socialismo tolhe a liberdade de expressão e de escolha das pessoas. Tampouco é o capitalismo que dá liberdade mas tira o pão.
No evangelho de Jesus você tem liberdade porque é a graça que impera. E você tem pão e todas as suas necessidades supridas pela comunidade de irmãos; pelo menos esse era o ideal.
E por que o evangelho de Jesus tira a possibilidade de se viver sozinho? Porque só vivendo em comunidade e dependendo desta é que aprendo a não ser egoísta, aprendo a compartilhar e aprendo a ajudar e a ser ajudado.
Eu quero convidá-lo a viver este sistema onde você estiver. Na sua comunidade, na sua família, no seu bairro, onde a vida lhe mandar.
Porque natal se vive assim...todos os dias do ano.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

QUANTO VOCÊ AMA A JESUS?


"Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta.

Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais? " Lucas 7:41-42

Esta pergunta foi dirigida ao fariseu, a você e a mim. Quanto você ama Jesus? Parece uma questão quantitativa. É e não é. Pra Deus não é, mas pra nós, seres humanos deve ser.
O fariseu se achava mais "santo" que a pecadora e por isso Jesus lhe conta uma parábola. A conclusão da parábola é simples: nem o fariseu "santo" e nem a pecadora tinham com que pagar a dívida para com Deus, mas Ele perdoou a ambos.
A pecadora devia mais que o fariseu? Claro que não. Esta é mais uma daquelas ironias deliciosas que só Jesus sabia fazer. Diante de Deus ambos deviam igual. Isso mesmo. Você deve a mesma coisa que o bandido e a prostituta.
Mas para o fariseu ele devia pouco ou nada, e para a prostituta, ela devia muito e talvez tudo.
A conclusão é simples. A prostituta, sabendo que sua dívida era impagável saiu perdoada e feliz. O fariseu saiu sobrecarregado e triste.
E esta é uma das maravilhas que esta pequena parábola nos mostra. Dependendo do quanto você acha que deve pra Jesus, você pode sair triste ou alegre, leve ou com um peso enorme nos ombros.
A auto-confiança vale somente no mundo contemporâneo onde se exacerba o homem e seu pseudo poder interior. Pra Deus qualquer auto-confiança é lixo porque ele nos vê interiormente, sabe quem somos no mais profundo do nosso ser.
A receita que Jesus nos dá é simples. Aceite que sua dívida é impagável mas que Jesus já a pagou. Você sairá leve como a prostituta com a certeza do perdão. Não mais olhará o outro como menos ou mais pecador, mas olhará a todos e se incluirá como dependente de Deus, salvo por graça e não por mérito.
Seu amor por Jesus será grande porque só você saberá de onde Ele o tirou. Só você saberá o peso que estava sobre você mas não está mais. E ouvirá, bem no fundo do seu coração: Sua fé lhe salvou, vá em paz.

sábado, 19 de outubro de 2013

DEUS NÃO CASTIGA


"Como é feliz o homem a quem Deus corrige; portanto, não despreze a disciplina do Todo-poderoso. Pois ele fere, mas dela vem tratar; ele machuca, mas suas mãos também curam. 

Os contemporâneos de Jó acreditavam que todas as coisas vinham da mão de Deus, boas e más. A figura de Satanás aparece no livro como o provocador de toda a situação, mas provavelmente esta inclusão foi feita tardiamente por um narrador em terceira pessoa. A ideia do diabo é pós cativeiro, antes disso a ideia que se tinha era que tudo vinha de Deus.
Por isso o amigo de Jó atribui a correção a Deus.
Mas pelo teor das conversas, seus amigos não acreditavam em uma correção para o aprendizado, mas em uma correção retributiva, ou seja, se Jó estava sofrendo era porque fizera alguma coisa errada, e, neste sentido, Deus não castiga.
Incrível, mas conversando com algumas pessoas por estes dias, percebi que na mente de muita gente ainda está a ideia equivocada que Deus castiga o mal que fazemos simplesmente por castigar, como um ato de retribuição e de vingança. É como se Deus ficasse atrás da porta com aquela foice da morte esperando a primeira mancada nossa para nos acertar a cabeça. Nós somos assim, Deus não.
A correção de Deus é para o nosso bem, porque na maioria das vezes é somente assim que conseguimos aprender e avançar na vida. Não é uma correção de vingança, mas de amor. Deus não tem melindres a ponto de revidar nossos erros e pecados; Deus se entristece, mas sua tristeza não gera raiva e nem sentimento de revide.
A correção de Deus é como de um pai, no melhor modelo de pai que conseguimos imaginar.
Se você vir seu filho atravessando a rua correndo na iminência de ser atropelado, você não o jogará para fora da rua com todas as suas forças independente de machucá-lo? O exemplo não é perfeito, mas é mais ou menos assim que Deus faz conosco.
E Ele não poderia poupar-nos do sofrimento e nos corrigir de maneiras menos dolorosas? Poderia se não tivéssemos livre arbítrio para escolhermos nossas ações, e esse é mais um dos motivos pelos quais creio na nossa liberdade de escolha diante da vida.
Por tudo isso prefiro usar textos do Novo Testamento que falam da correção de Deus a usar textos do Antigo, porque no novo a ideia de Pai está muito melhor elaborada em razão da pessoa de Jesus: "Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Pois, qual o filho que não é disciplinado por seu pai? Hebreus 12:7"
Nem Jó, nem seus amigos souberam ao certo qual foi o motivo do sofrimento, e pra mim essa é uma das mensagens do livro para nós: nunca saberemos ao certo o motivo dos nossos sofrimentos e das nossas agruras, porque na verdade isso não importa muito.
O mais importante em todo processo de desafios pelos quais passarmos é ter a convicção de que Deus estará conosco. Em todas as mazelas que Jó experimentara, Deus estava com Ele e no controle de tudo. Assim é na nossa vida.
Na maioria das vezes não saberemos se estamos sendo corrigidos pelo amor de Deus, se estamos colhendo frutos de nossas escolhas ou as duas coisas ao mesmo tempo. É sábio de nossa parte analisarmos nossa vida para ver se há algo a ser corrigido, mas nada mais há que se fazer a não ser acreditar que não estamos sozinhos, Deus caminha ao nosso lado.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

ONDE ESTÁ SUA CONFIANÇA?

Sua vida piedosa não lhe inspira confiança, e o seu procedimento irrepreensível não lhe dá esperança? "Reflita agora: Qual foi o inocente que chegou a perecer? Onde foi que os íntegros sofreram destruição? Jó 4:6-7
 
A teologia da prosperidade não é coisa recente. Existe desde os tempos do patriarca Jó. Aliás, como visto no texto acima, ele mesmo foi vítima desta teologia doente e patética.
A verdade é que a teologia da prosperidade não trata só de dinheiro. Emaranhada com a teologia da confissão positiva, ela apregoa que os cristãos não podem passar por dificuldades, sejam estas de ordem física,  emocional ou financeira. Se isso acontecer é sinal de que há algo errado com a pessoa.
Jó experimentou tudo, perdeu todos os seus bens (financeiro), todos os seus filhos (emocional) e sua saúde (física). Do ponto de vista da teologia de seus amigos, ele estava terrivelmente sob o julgamento de Deus, porque como eles mesmos disseram - qual foi o inocente que chegou a perecer?
O tipo de espiritualidade vivida pelos amigos de Jó era do tipo Rei e súdito ao invés de ser do tipo Pai e filho. Eles não conheciam a graça de Deus, viviam no tempo do olho por olho e dente por dente, viviam um relacionamento de barganha com seu Criador. Por isso erraram feio.
O primeiro erro foi achar que vida piedosa é capaz de gerar confiança em alguém. Não pode. Por mais piedosa que uma pessoa seja, seus atos estarão sempre aquém de um Deus que é perfeitamente bom e justo. Quando tentamos medir se merecemos ou não alguma coisa por aquilo que somos ou fazemos, sempre ficará uma ponta de dúvida: O que eu fiz terá sido suficiente para alcançar o favor de Deus? A resposta é não. Deus, por entender que nossa consciência sempre estaria contra nós, nos trata com graça e nos mostra que sempre nos amará independente do que possamos fazer ou não. Isto é consolo para aqueles que sabem-se incapazes e teste de humildade para aqueles que acham-se auto-suficientes.
Procedimento irrepreensível também não gera esperança. Esperança está relacionada com algo bom, mas que ainda não aconteceu, portanto, fora do nosso controle. Como um amigo sempre diz: "só podemos ter esperança naquilo que Deus realmente prometeu". Não podemos ter esperança no incontrolável, baseados em algo tão limitado como nosso procedimento. A única coisa que Deus prometeu de verdade é que estaria conosco, o resto é por conta e risco.
O último argumento de Elifaz é mais insano ainda. Ele diz que nunca viu um justo perecer e nem um inocente ser destruído.
Parece coisa de gente alienada, gente que não sai de casa, não assiste as notícias e não lê jornal. Muito parecido com o comentário de Davi - "Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão." Ou Davi nunca saiu do seu palácio ou fechava os olhos para as injustiças que aconteciam ao seu redor.
Comentário deste tipo é de gente que não tem o que falar, quer consolar mas acaba piorando as coisas, gente que não ousa questionar e aceita tudo que ouve de forma passiva e irrefletida.
Teologia deste tipo não cabe em um mundo onde bons e maus morrem de fome, sofrem das mais terríveis doenças, são vítimas dos crimes mais cruéis.
Por isso no capítulo 42 Deus fica indignado com Elifaz e seus dois amigos; porque falaram de Deus aquilo que Ele não era.
A Bíblia foi escrita para falar com o ser humano, gente como a gente, que sofre, chora, ri, tem sentimentos, e precisa ser consolado quando a vida lhe passa uma rasteira. Não com o consolo de Elifaz que só estava tentando comprovar sua teoria usando a desgraça alheia.
O consolo de Deus é um consolo de graça:
 
Eu estou com você e sempre estarei.
Isso que está acontecendo não foi promovido por algo que você fez ou deixou de fazer.
A vida às vezes prega peças, por isso não tente encontrar qualquer resposta para o seu sofrimento.
Não se culpe.
Entregue sua dor aos meus cuidados.
Deixe que meu Espírito lhe cure por completo.
 
Isto é evangelho. Isto é graça.
A graça de Deus cura e não adoece, salva e não condena, gera vida e não morte. Qualquer coisa diferente disso não é graça e precisa ser rejeitada.
Ainda tem muita gente vivendo a teologia dos amigos de Jó, se esmerando para tentar fazer coisas que mereçam a atenção do seu deus, esmagando-se psicologicamente na tentativa de entender os desfavores da vida, deixando de viver o maior presente de Deus para nós, a sua graça.
Se entregar à graça é encontrar a paz de espírito que tanto se procura. A paz que mal nenhum nesta vida pode tirar, porque é presente de Deus para todo aquele que o confessa.

sábado, 7 de setembro de 2013

EXPLICANDO O INEXPLICÁVEL


Então eles voltaram para Jerusalém, vindo do monte chamado das Oliveiras, que fica perto da cidade, cerca de um quilômetro. Quando chegaram, subiram ao aposento onde estavam hospedados. Achavam-se presentes Pedro, João, Tiago e André; Filipe, Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelote, e Judas, filho de Tiago. Todos eles se reuniam sempre em oração, com as mulheres, inclusive Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus. Naqueles dias Pedro levantou-se entre os irmãos, um grupo de cerca de cento e vinte pessoas, e disse: "Irmãos, era necessário que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse por boca de Davi, a respeito de Judas, que serviu de guia aos que prenderam Jesus. Ele foi contado como um dos nossos e teve participação neste ministério".
( Com a recompensa que recebeu pelo seu pecado, Judas comprou um campo. Ali caiu de cabeça, seu corpo partiu-se ao meio, e as suas vísceras se derramaram. Todos em Jerusalém ficaram sabendo disso, de modo que, na língua deles, esse campo passou a chamar-se Aceldama, isto é, campo de Sangue. )
"Porque", prosseguiu Pedro, "está escrito no Livro de Salmos: ‘Fique deserto o seu lugar, e não haja ninguém que nele habite’; e ainda: ‘Que outro ocupe o seu lugar’. Portanto, é necessário que escolhamos um dos homens que estiveram conosco durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, desde o batismo de João até o dia em que Jesus foi elevado dentre nós às alturas. É preciso que um deles seja conosco testemunha de sua ressurreição". Então indicaram dois nomes: José, chamado Barsabás, também conhecido como Justo, e Matias. Depois oraram: "Senhor, tu conheces o coração de todos. Mostra-nos qual destes dois tens escolhido para assumir este ministério apostólico que Judas abandonou, indo para o lugar que lhe era devido". Então tiraram sortes, e a sorte caiu sobre Matias; assim, ele foi acrescentado aos onze apóstolos. Atos 1:12-26

Algumas coisas na vida nos incomodam muito - aquilo que não podemos explicar e aquilo que parece tão lógico mas na verdade não é. Não que não exista alguma lógica no universo, ela existe; a Terra foi criada com lógica, há uma lógica para o resultado do pecado e para a redenção do ser humano, e por aí vai. O problema é que não sabemos exatamente onde e nem quando ela ocorre (quando ela ocorre), e então começamos desesperadamente tentar encontrar respostas para aquilo que não podemos entender e nem explicar.
Jesus voltou ao Pai, seus discípulos ficaram em Jerusalém esperando a promessa do Espírito Santo e num certo dia, não suportando mais a situação inexplicável de Judas, Pedro resolve dar um jeito na coisa, colocando outra pessoa em seu lugar.
Não acredito que Pedro tenha errado, mas também não o defendo. Temos que levar em consideração a mística que o judeu tinha e tem com os números, afinal 12 era o número das tribos de Israel. Não o condeno por isso e nem creio que esse foi seu real motivo para escolher outro para o lugar do traidor.
Para mim o real motivo foi esse: Pedro e nem ninguém conseguia explicar por que Jesus, sendo Deus, havia escolhido um homem que o trairia e depois se mataria. Acaso Jesus não sabia de antemão que isto iria acontecer? Jesus teria errado?
Este era o problema de Pedro, não conseguir explicar o inexplicável.
E na ânsia de encontrar uma saída, sai a procura de apoio bíblico para uma solução do problema insolúvel.
Deus? Não estava preocupado com isso. Deus estava "preocupado" com a missão que estava prestes a começar. Para Ele esse cabalismo incipiente judaico era a menor das preocupações, porque Deus se preocupa com vidas.
Bom, falei tudo isso pra dizer que acontece a mesma coisa conosco.
Olhamos para os acontecimentos de nossa vida e tentamos encontrar um padrão do agir de Deus. O problema começa quando baseamos esse padrão no padrão que nós mesmos criamos e acreditamos seja o modo correto de Deus agir. O problema maior surge quando erramos na avaliação do que está acontecendo porque simplesmente temos uma visão muito limitada do que está acontecendo ao nosso redor.
Quando acontece uma coisa boa (aos nossos olhos), então foi Deus. Quando acontece uma coisa ruim (também ao nosso ver) então foi o diabo, ou no máximo falamos que é Deus nos provando. Isso é tentar explicar o inexplicável.
Porque na verdade nunca teremos uma dimensão exata daquilo que Deus está fazendo. Nunca saberemos porque Deus fez, se Deus fez e como Deus fez, e nunca saberemos as consequências disso tudo.
Mas quando temos "certeza" de que aquilo fora feito por Deus e no final sai diferente do que planejamos, ficamos como Pedro, desesperados para encontrar uma solução que tente explicar o inexplicável. Vamos pra Bíblia, fazemos mandingas, "macumbas", buscamos a palavra do "profeta", porque afinal de contas foi Deus que fez ou falou. Isso nos causa frustração, cansaço espiritual e perda de tempo.
Por que Jesus escolheu Judas mesmo sabendo o que iria acontecer? Não sei, talvez pra mostrar que nem todo mundo que foi escolhido vai chegar no final da corrida.
O que precisamos entender definitivamente é: não é porque não deu certo aos nossos olhos, que não tenha dado certo pra Deus. Deus planejou então o final de Judas? Óbvio que não, mas na vida não temos sempre os finais felizes como os que ocorrem nos filmes e novelas. A vida é o que é. Deus nos dá oportunidades e escolhas, mas nós escolhemos quaiiremos aproveitar.
Nem sempre o nosso final feliz é o final feliz pra Deus e vice-versa.
O que nos cabe? Acreditar que Ele tem sempre tudo sob controle, mesmo que pareça que deu tudo errado. Acreditar que Ele sempre quer e quererá um bom fim para nossas vidas, mas quem definirá esse fim, no fim das contas, são nossas escolhas.
Que Deus nos ajude a escolher bem.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

PRIMEIRO O REINO


Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.

Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?
E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.
Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. Atos 1:5-8

Conflito de foco e de importância sobre a vida.
Jesus está falando sobre uma futura mudança de paradigma jamais vista em todos os tempos. Uma mudança que afetará toda a humanidade. Uma mudança que marca o início da restauração do caos da criação. Esta mudança é a decida do Espírito Santo sobre o seu povo, não mais de forma local e esporádica como acontecia até então, mas de forma universal.
Deus não será mais o "Deus dos judeus". Deus não mais estará confinado em um templo, "controlado" por leis e regras limitadas e temporais (óbvio que Ele nunca esteve, mas assim pensavam os judeus). Deus agora está "livre" e vai atuar sem limites e sem discriminações quanto a raças ou religiões.
Mas o foco e as preocupações daqueles que ouviam Jesus eram outras. Seus problemas eram tão pequenos e insignificantes perto do que estava para acontecer, que Jesus tem de interromper sem muita cortesia - "esquece isso, a vocês não importa saber tempos ou estações. Eu quero que vocês se preocupem com algo que vai muito além dos seus problemas imediatos: o Reino de Deus".
Ser testemunhas do que Jesus fez, falou e viveu, essa era a missão.
Veio-me a mente uma questão: Temos nos preocupado em ser testemunhas do que Jesus fez, viveu e falou, ou temos tentado encher "linguiça" dando o nome a isso de "evangelho"?
Mas voltando ao assunto, esse conflito entre Jesus e aqueles que o ouviam se parece muito conosco.
Estamos por demais preocupados com nossos problemas, aquilo que nos afeta pessoalmente, aquelas coisas que só a nós dizem respeito e não temos muito tempo de olhar para as necessidades do reino. Não que nossos problemas não sejam importantes e grandes aos nossos olhos, mas o que Jesus quer que entendamos é que, à medida que nos preocupamos com o reino, Ele se preocupa com nossas coisas. À medida que dedicamos tempo e esforços com as coisas do seu reino, Ele se encarrega de nossas demandas. Aliás, tenho certeza que Ele pode resolvê-las melhor que nós mesmos não é?
Mas queremos sempre ter o controle de tudo, quando no fundo não controlamos nada, nenhum segundo da nossa ínfima existência.
Isto não significa apatia diante dos problemas. Significa que farei apenas aquilo que está ao meu alcance fazer, e o que não estiver, entrego pra Ele.
Agindo assim não me desgasto com aquilo que foge ao controle e posso pensar nas coisas que realmente importam, as do reino.
Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça.
Você pode estar pensando: esse cara não tem problemas, deve viver uma vida muito mansa pra pensar assim. Engano seu, sei muito bem o quanto é difícil viver esta ordem de Jesus. Exatamente. Não é um conselho, mas uma ordem - buscai. Mas ao mesmo tempo que sei o quanto é difícil, sei que se foi Jesus quem falou, então é possível.
E o interessante é que viver o reino é o oposto perfeito de viver preocupado com nossas coisas, porque viver o reino é se preocupar com o outro, com os seus problemas. Mas nosso mundo está egoísta demais para pensar numa insanidade destas.
Mas quando não temos coragem de deixar as coisas mais importantes de nossa vida nas mãos de Deus, falta-nos fé. Podemos ser os mais religiosos de nossa comunidade, mas não teremos a fé que move o coração de Deus, a fé da entrega total.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

CEGOS COMO BARTIMEU

"Vá", disse Jesus, "a sua fé o curou". Imediatamente ele recuperou a visão e seguia a Jesus pelo caminho. Marcos 10:52

A cura de Bartimeu é um tipo perfeito de todo aquele que entra em contato com a boa notícia de Jesus - O Evangelho.
Bartimeu era cego, ficou sabendo que Jesus curava e que estava passando por perto. Começou a gritar ao ponto de chamar a atenção de Jesus para ele.
Jesus tinha o poder de curá-lo, mas era necessário que Bartimeu quisesse ser curado. Quando Bartimeu deixou claro sua vontade, Jesus então faz o que lhe é inerente fazer, abre os olhos do cego, e a primeira pessoa que ele vê é Jesus.
Há dois momentos em nossa vida em que nossos olhos são abertos. O primeiro momento é o da perda da inocência. Neste primeiro e trágico momento nossos olhos são abertos e passamos a discernir entre o bem e o mal, como aconteceu lá no jardim. E esse processo se repete em cada ser humano que atinge a idade da escolha de comer do fruto que não deveríamos ter comido.
É um momento irônico e paradoxal pois ao mesmo tempo que nossos olhos são abertos para o discernimento de nossas ações, eles são fechados para o nosso criador. Passamos a agir de acordo com nossas inclinações, desejos e vontades, contrariando os desejos e planos que Deus tem para nossa vida.
Carregamos o DNA da cegueira desde o nascimento; daquela que nos impede de enxergar a Deus.
O segundo momento é o momento da redescoberta onde entendemos que, apesar de ter tanto discernimento, somos na verdade cegos. A liberdade que o discernimento nos proporciona se transforma em nossa própria prisão e nos faz escravos de nossos desejos desenfreados. Não conseguimos mais controlar nossas inclinações e a partir deste momento não há mais limites para aquilo que podemos fazer ou pensar. Neste momento precisamos de Jesus. Ele não tira nosso discernimento, mas tira a cegueira que nos faz achar que podemos tudo e que somos independentes. Tola independência que gera dependência, vício, morte.
Neste momento de redescoberta descobrimos que é muito melhor depender do que achar que podemos tudo sozinhos. É como a criança que tenta dar os primeiros passos sem a ajuda do pai, cai, se machuca, sente a dor da sua independência e olha para trás como querendo dizer: pai, me ajuda, porque eu não posso fazer isso sozinha. O pai a levanta e ela entende que, não importa o tempo que passe, sempre que a vida causar dor, o pai estará lá para acolhe-la.
E finalmente, Bartimeu nos ensina que depois de entender que depender de Deus é tão bom, não há outra opção mais segura e reconfortante do que seguir a Jesus, tê-lo por perto, seguir os seus passos. Porque afinal de contas a vida sempre nos causará dores e é muito bom ter pra quem olhar e dizer: - me ajuda porque eu não posso sozinho. Esse é o prêmio pra quem um dia disse pra Jesus: - estou cego, não posso ver, abre meus olhos!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

APENAS UMA SEMENTE...


Novamente ele disse: "Com que compararemos o Reino de Deus? Que parábola usaremos para descrevê-lo? É como um grão de mostarda, que, quando plantada, é a menor semente de todas. 

A pregação de Jesus foi a pregação do reino.
Foi isso o que Ele veio fazer, inaugurar o reino. E com a sua vida veio mostrar que o reino de Deus era diferente do reino dos homens.
Ao usar de parábolas para explicar o que era esse reino, tão equivocado na mente dos seus compatriotas, Jesus usa de expressões interessantes como é o caso do grão de mostarda. Mas em todas as tentativas de explicar o reino, Ele nunca usou de expressões que demonstrassem grandiosidade, mas sempre pequenos atos do cotidiano palestino: um homem semeando, uma semente que só depois se torna uma grande árvore, uma única jóia em um campo e por aí vai. Parece que Jesus intencionalmente quis que tivéssemos uma visão local e muito reduzida do reino, porque na verdade quem faz crescer a plantação do homem é Ele, assim como é Ele que faz a semente da mostarda virar árvore. A nós apenas compete o semear.
Por isso que ideologias revolucionárias de transformação global não fazem parte do evangelho de Jesus. Enquanto aqui na Terra, Ele não se preocupou em mudar a situação de Israel diante da opressão romana, mas Ele se preocupou em mudar a situação de pessoas, restaurando-lhes a dignidade e a fé, mesmo sabendo que essas pessoas continuariam vivendo sob a opressão romana. É claro que o que Jesus fez, ensinou e viveu têm repercussões universais, mas inicialmente foram ações locais e aparentemente pequenas.
E é nesse ponto que quero chegar. São nossas pequenas ações que fazem a diferença no reino. É assim que se vive o reino, e é assim que o reino se transforma na grande árvore até o dia escatológico definido por Deus.
Ninguém nunca conseguiu e nem conseguirá mudar o mundo sozinho. As grandes revoluções da humanidade que propuseram mudanças radicas e drásticas causaram mais dor e morte do que qualquer benefício. Mas a revolução que Jesus propõe, embora pareça infrutífera em um primeiro olhar, é capaz de causar mudanças estratosféricas universais na humanidade.
O reino que Jesus propõe que seja vivido subsiste em qualquer regime político ou sob qualquer forma de governo porque é um reino baseado no amor a Deus e no amor mútuo entre as pessoas. Se vive o reino cuidando e sendo cuidado por pessoas.
Podemos ser politizados ou engajados politicamente, mas não podemos deixar que isso seja mais importante que as pessoas. O engajamento político jamais poderá ser um fim em si mesmo, mas apenas um meio de alcançar as vidas. E se esse meio for apenas uma utopia, ou um alvo demasiado longo, o mais importante para o reino é o aqui e o agora. É mais importante semear com as mãos do que esperar 200 anos tentando inventar uma máquina que semeie sozinha.
Se você é do tipo "Guevara", sinto muito, mas o reino se parece mais com "Madres Teresas" que revolucionam o mundo cuidando de feridas de pessoas sem nome pelas ruas da vida.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

DEUS E O BARRO

Todavia brotava água da terra e irrigava toda a superfície do solo. Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra... Gênesis 2:6-7

Água e pó formam barro.
Apresentaram-me um deus muito distante e poderoso, tão poderoso que seria incapaz de se misturar com a insignificância humana.
Hoje em dia acredito mais em um Deus que se mistura, se relaciona e se funde com a humanidade com a intenção de conquistá-la.
Antes imaginava um deus lá em cima, bem lá no alto, ordenando ao barro, e este, bem devagar, ia tomando a forma de um corpo, membros e músculos se formando enquanto deus apreciava tudo impecavelmente de seu trono.
Agora penso em um Deus se ajoelhando na terra, afundando as mãos no barro, separando os pedregulhos de um lado e lentamente, como um artista diante de sua escultura, molda a mais excelente de todas as suas criaturas, alguém finalmente à sua imagem e semelhança, alguém com sentimentos como os dele.
Depois de pronto, Deus lava as mãos sujas de barro, seca-as em seu avental e sorri satisfeito com o trabalho de suas mãos. Com um carinho quase materno, Deus sopra vida em sua obra que abre os olhos e reconhece pela primeira vez aquele que o criou.
Não vejo a obra-prima de Deus sendo feita à distância, através de uma ordem imperial, mas sendo feita pessoalmente, com cuidado e precisão.
E, desde então, existe uma força de atração irresistível da criatura pelo seu Criador.
Pessoas de todas as épocas e de todas as partes do mundo tentam encontrar uma força maior, um ser superior, alguém ou alguma coisa que possa explicar onde tudo começou, qual a origem e qual o sentido da existência. Até a ciência evolucionista ateia busca este começo existencial porque não há nada que extingua o desejo de olhar novamente nos olhos daquele que nos modelou do barro. Esta atração é irresistível.
A única coisa que nos impede de vê-lo e de senti-lo é o pecado; ele é o único meio capaz de fazer-nos insensíveis àquele que nos criou.
Apesar disso, todas as vezes que desejarmos vê-lo novamente, basta chamarmos por Ele e, assim como no princípio, Ele estará bem na nossa frente, olhando novamente nos nossos olhos com o mesmo semblante e com a mesma alegria da primeira vez. Porque para Ele, cada retorno será como uma nova criação, sem ressentimentos e sem passado, limpos como se fosse o primeiro barro.
E sem hesitação, novamente Ele sopra vida em nós, incansavelmente, quantas vezes forem necessárias.
Assim é Deus. E sempre será.