sábado, 19 de outubro de 2013

DEUS NÃO CASTIGA


"Como é feliz o homem a quem Deus corrige; portanto, não despreze a disciplina do Todo-poderoso. Pois ele fere, mas dela vem tratar; ele machuca, mas suas mãos também curam. 

Os contemporâneos de Jó acreditavam que todas as coisas vinham da mão de Deus, boas e más. A figura de Satanás aparece no livro como o provocador de toda a situação, mas provavelmente esta inclusão foi feita tardiamente por um narrador em terceira pessoa. A ideia do diabo é pós cativeiro, antes disso a ideia que se tinha era que tudo vinha de Deus.
Por isso o amigo de Jó atribui a correção a Deus.
Mas pelo teor das conversas, seus amigos não acreditavam em uma correção para o aprendizado, mas em uma correção retributiva, ou seja, se Jó estava sofrendo era porque fizera alguma coisa errada, e, neste sentido, Deus não castiga.
Incrível, mas conversando com algumas pessoas por estes dias, percebi que na mente de muita gente ainda está a ideia equivocada que Deus castiga o mal que fazemos simplesmente por castigar, como um ato de retribuição e de vingança. É como se Deus ficasse atrás da porta com aquela foice da morte esperando a primeira mancada nossa para nos acertar a cabeça. Nós somos assim, Deus não.
A correção de Deus é para o nosso bem, porque na maioria das vezes é somente assim que conseguimos aprender e avançar na vida. Não é uma correção de vingança, mas de amor. Deus não tem melindres a ponto de revidar nossos erros e pecados; Deus se entristece, mas sua tristeza não gera raiva e nem sentimento de revide.
A correção de Deus é como de um pai, no melhor modelo de pai que conseguimos imaginar.
Se você vir seu filho atravessando a rua correndo na iminência de ser atropelado, você não o jogará para fora da rua com todas as suas forças independente de machucá-lo? O exemplo não é perfeito, mas é mais ou menos assim que Deus faz conosco.
E Ele não poderia poupar-nos do sofrimento e nos corrigir de maneiras menos dolorosas? Poderia se não tivéssemos livre arbítrio para escolhermos nossas ações, e esse é mais um dos motivos pelos quais creio na nossa liberdade de escolha diante da vida.
Por tudo isso prefiro usar textos do Novo Testamento que falam da correção de Deus a usar textos do Antigo, porque no novo a ideia de Pai está muito melhor elaborada em razão da pessoa de Jesus: "Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Pois, qual o filho que não é disciplinado por seu pai? Hebreus 12:7"
Nem Jó, nem seus amigos souberam ao certo qual foi o motivo do sofrimento, e pra mim essa é uma das mensagens do livro para nós: nunca saberemos ao certo o motivo dos nossos sofrimentos e das nossas agruras, porque na verdade isso não importa muito.
O mais importante em todo processo de desafios pelos quais passarmos é ter a convicção de que Deus estará conosco. Em todas as mazelas que Jó experimentara, Deus estava com Ele e no controle de tudo. Assim é na nossa vida.
Na maioria das vezes não saberemos se estamos sendo corrigidos pelo amor de Deus, se estamos colhendo frutos de nossas escolhas ou as duas coisas ao mesmo tempo. É sábio de nossa parte analisarmos nossa vida para ver se há algo a ser corrigido, mas nada mais há que se fazer a não ser acreditar que não estamos sozinhos, Deus caminha ao nosso lado.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

ONDE ESTÁ SUA CONFIANÇA?

Sua vida piedosa não lhe inspira confiança, e o seu procedimento irrepreensível não lhe dá esperança? "Reflita agora: Qual foi o inocente que chegou a perecer? Onde foi que os íntegros sofreram destruição? Jó 4:6-7
 
A teologia da prosperidade não é coisa recente. Existe desde os tempos do patriarca Jó. Aliás, como visto no texto acima, ele mesmo foi vítima desta teologia doente e patética.
A verdade é que a teologia da prosperidade não trata só de dinheiro. Emaranhada com a teologia da confissão positiva, ela apregoa que os cristãos não podem passar por dificuldades, sejam estas de ordem física,  emocional ou financeira. Se isso acontecer é sinal de que há algo errado com a pessoa.
Jó experimentou tudo, perdeu todos os seus bens (financeiro), todos os seus filhos (emocional) e sua saúde (física). Do ponto de vista da teologia de seus amigos, ele estava terrivelmente sob o julgamento de Deus, porque como eles mesmos disseram - qual foi o inocente que chegou a perecer?
O tipo de espiritualidade vivida pelos amigos de Jó era do tipo Rei e súdito ao invés de ser do tipo Pai e filho. Eles não conheciam a graça de Deus, viviam no tempo do olho por olho e dente por dente, viviam um relacionamento de barganha com seu Criador. Por isso erraram feio.
O primeiro erro foi achar que vida piedosa é capaz de gerar confiança em alguém. Não pode. Por mais piedosa que uma pessoa seja, seus atos estarão sempre aquém de um Deus que é perfeitamente bom e justo. Quando tentamos medir se merecemos ou não alguma coisa por aquilo que somos ou fazemos, sempre ficará uma ponta de dúvida: O que eu fiz terá sido suficiente para alcançar o favor de Deus? A resposta é não. Deus, por entender que nossa consciência sempre estaria contra nós, nos trata com graça e nos mostra que sempre nos amará independente do que possamos fazer ou não. Isto é consolo para aqueles que sabem-se incapazes e teste de humildade para aqueles que acham-se auto-suficientes.
Procedimento irrepreensível também não gera esperança. Esperança está relacionada com algo bom, mas que ainda não aconteceu, portanto, fora do nosso controle. Como um amigo sempre diz: "só podemos ter esperança naquilo que Deus realmente prometeu". Não podemos ter esperança no incontrolável, baseados em algo tão limitado como nosso procedimento. A única coisa que Deus prometeu de verdade é que estaria conosco, o resto é por conta e risco.
O último argumento de Elifaz é mais insano ainda. Ele diz que nunca viu um justo perecer e nem um inocente ser destruído.
Parece coisa de gente alienada, gente que não sai de casa, não assiste as notícias e não lê jornal. Muito parecido com o comentário de Davi - "Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão." Ou Davi nunca saiu do seu palácio ou fechava os olhos para as injustiças que aconteciam ao seu redor.
Comentário deste tipo é de gente que não tem o que falar, quer consolar mas acaba piorando as coisas, gente que não ousa questionar e aceita tudo que ouve de forma passiva e irrefletida.
Teologia deste tipo não cabe em um mundo onde bons e maus morrem de fome, sofrem das mais terríveis doenças, são vítimas dos crimes mais cruéis.
Por isso no capítulo 42 Deus fica indignado com Elifaz e seus dois amigos; porque falaram de Deus aquilo que Ele não era.
A Bíblia foi escrita para falar com o ser humano, gente como a gente, que sofre, chora, ri, tem sentimentos, e precisa ser consolado quando a vida lhe passa uma rasteira. Não com o consolo de Elifaz que só estava tentando comprovar sua teoria usando a desgraça alheia.
O consolo de Deus é um consolo de graça:
 
Eu estou com você e sempre estarei.
Isso que está acontecendo não foi promovido por algo que você fez ou deixou de fazer.
A vida às vezes prega peças, por isso não tente encontrar qualquer resposta para o seu sofrimento.
Não se culpe.
Entregue sua dor aos meus cuidados.
Deixe que meu Espírito lhe cure por completo.
 
Isto é evangelho. Isto é graça.
A graça de Deus cura e não adoece, salva e não condena, gera vida e não morte. Qualquer coisa diferente disso não é graça e precisa ser rejeitada.
Ainda tem muita gente vivendo a teologia dos amigos de Jó, se esmerando para tentar fazer coisas que mereçam a atenção do seu deus, esmagando-se psicologicamente na tentativa de entender os desfavores da vida, deixando de viver o maior presente de Deus para nós, a sua graça.
Se entregar à graça é encontrar a paz de espírito que tanto se procura. A paz que mal nenhum nesta vida pode tirar, porque é presente de Deus para todo aquele que o confessa.