segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

CREMOS REALMENTE NA GRAÇA?

Graça é um termo cristão. É o favor que recebemos de Deus sem merecermos. Nossa fé nos diz que todo relacionamento de Deus para com os seres humanos é tão somente baseado na graça. Isto quer dizer que não há nada que você faça ou deixe de fazer para merecer mais ou menos o favor de Deus.
O conceito é até certo ponto simples de entender mas extremamente difícil de ser vivido, porque todos os relacionamentos que criamos são baseados em trocas. Gostamos de quem gosta de nós, favorecemos a quem nos favorece, e por consequência odiamos quem nos odeia. Foi assim que fomos construídos como indivíduos em regra geral. Por isso que ajudar quem não nos tem em apreço é muito custoso, visto que vai ao encontro de nossa formação como pessoas e, por isso, necessita de vontade de nossa parte, já que não é algo que flui naturalmente.
Como cristãos, falamos na graça, a defendemos, veneramos aqueles que a sistematizaram como doutrina (coisa que não deveríamos fazer), mas na hora de viver nossa espiritualidade baseados nela, sempre colocamos algo a mais.
E a religião está recheada destes algo a mais. TODOS, indistintamente, colocam muitos "algo a mais" na graça: ortodoxos, fundamentalistas, liberais ou pentecostais, todos eles criaram e criam mecanismos de adesão ou engessamento que são na verdade penduricalhos à graça, que deveria ser e é um conceito pleno e suficiente. Ela não precisa de adereços e não suporta qualquer adendo.
A própria liturgia é um adereço quando entendida como essencial e imutável. Porque ela engessa, condiciona e dita um modo "como deve ser vivida a espiritualidade" que é única e individual. E o que nela (a liturgia) ocorre são muitos adereços dentro do maior. Porque via de regra, as pessoas defendem com unhas e dentes o seu modo "correto" de adorar. A sua música é a certa, a sua Bíblia é a melhor, a sua interpretação é a correta e por aí vai. E sempre que eu coloco o meu modo de exteriorizar a minha espiritualidade como o melhor ou o correto, automaticamente eu digo que o seu é o pior ou o errado, e nesse ponto a graça foi pro brejo porque ela deixou de ser suficiente, ou seja, eu preciso da graça, mas também preciso cantar essa música, orar deste jeito, acreditar nesta ou naquela interpretação deste ou daquele texto, e quando me dou conta, a graça que deveria ser pura está contaminada com pressuposições e interpretações humanas e autoritárias. Deixou de ser graça.
A graça é tão pura e tão livre que também me faz viver de forma pura e livre. Pura não no sentido de imaculada, mas no sentido de independência irrestrita e descompromissada com os adereços.
A graça não me faz santo e nem cafajeste. A graça me faz sensível ao meu próprio mal. E quando este mal vem à tona eu não fico indiferente e nem temeroso com o castigo de um "deus" furioso, mas eu sinto dor, daquelas dores de quem entristece um amigo por quem é amado sem ter nada que fazer para reparar o erro. Daquelas dores que a gente sente na hora da morte de um ente, porque sabe que poderia ter sido melhor do que foi.
Essa é a graça que eu acredito, que é maior que tudo porque é baseada no amor maior.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O JESUS HISTÓRICO - "Um cadinho de Teologia"

O JESUS HISTÓRICO (out 2009)



Introdução
Este tem sido um tema controverso e causador de muitas polêmicas. A pessoa de Cristo sempre foi alvo de especulações e por isso, não era de se admirar que não só sua deidade, mas também a historicidade de Jesus fosse questionada. Esse questionamento iniciou-se por vota do século XVII, onde as pessoas não mais aceitavam os modelos de interpretação propostos até então e começaram, principalmente na Europa, dar início a questionamentos sobre a pessoa de Cristo. A pergunta da problemática é mais ou menos esta: Temos base histórica objetiva suficiente para acreditar na pessoa de Jesus Cristo?
Este trabalho se propõe a discutir esse dilema sob a perspectiva de alguns autores que se dispuseram a defender a historicidade de Jesus, sob a qual sua obra e sacrifício se apóiam.


A Problemática
Schillebeeckx afirma que esse interesse moderno pelo Jesus histórico na verdade, não é conseqüência da moderna consciência histórica, mas é questão essencial para o cristianismo, porque confessamos na fé acerca do homem histórico, Jesus de Nazaré, e não acerca de figura mítica, que Ele é o Messias ou o Cristo. O que o autor na verdade está querendo dizer é que a necessidade desta investigação está na própria necessidade cristã de crer em um Jesus que viveu como homem, cresceu e morreu como tal. Para que a obra de Jesus pudesse ser eficaz, havia a necessidade da encarnação; Deus precisava tomar a forma humana para salvar o homem. Isto não poderia ser feito por um espírito e muito menos inventado por uma histórica de mitologia.
Nos vários momentos do cristianismo, Jesus assume um significado particular que estava em boa parte relacionado com a idéia e o conceito que as pessoas faziam dele. Por exemplo, na carta aos Hebreus, Jesus é o sumo sacerdote celeste. Na idade média e alta, Jesus é aquele que trouxe propiciação e nos redimiu. Já o iluminismo viu nele a imagem por excelência da moralidade humana e assim por diante.
Da mesma forma, podemos, a partir de cada experiência de conversão, fazer nosso próprio conceito a respeito de Jesus, o que não significa ser este conceito fidedigno de quem Jesus realmente foi enquanto Homem-Deus. Daí vem a importância da questão histórica: Quem foi realmente Jesus de Nazaré?
O estudo livre das Escrituras, isto é, à parte e sem a tutela da igreja, foi motivo de muita crítica e relutância por parte da igreja que temia que o método histórico-crítico pudesse criar um abismo entre o Jesus histórico e o Cristo da fé. Essa relutância, no entanto, foi deixando de ser, na medida em que a própria igreja via na pesquisa, um meio de reafirmar a pessoa de Cristo, de forma empírica e histórica.
Todavia, parece que toda a questão em cima do Jesus histórico e do Cristo da igreja, era menos cristológico e mais uma luta contra a patente exclusivista de interpretação das Escrituras.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

ONDE ESTÁ TEU IRMÃO?

Então o Senhor perguntou a Caim: "Onde está seu irmão Abel? " Respondeu ele: "Não sei; sou eu o responsável por meu irmão? " Gênesis 4:9

Esta pergunta não foi feita somente à Caim, ela é feita a todas as pessoas que optaram viver suas vidas pautadas pelo evangelho de Jesus: Onde está teu irmão?
O evangelho é maravilhoso porque ele cria um círculo benéfico de ajuda mútua, eu te ajudo, você me ajuda e assim ninguém tem falta de coisa alguma. Por isso somos responsáveis uns pelos outros, e por isso, até hoje, Deus continua nos fazendo a mesma pergunta: Onde está teu irmão? Como está teu irmão?
E irmão de acordo com as boas notícias de Jesus é um conceito que vai muito além dos limites consanguíneos e se estende até o inimaginável conceito de inimigo. Porque no evangelho é sempre assim, tudo se estende, tudo se amplifica, como a graça de Jesus.
E Jesus certa vez tratou desta questão de uma maneira bem simples e resolveu criar o conceito de próximo, e disse que próximo é todo aquele que passa pelo teu caminho precisando de ajuda, e se você puder fazer alguma coisa para ajudá-lo, ele se transformou em teu próximo, seja ele amigo ou inimigo.
Por isso Deus continua nos perguntando: Onde está o teu próximo?
Podemos fazer como Caim e respondermos: esta responsabilidade não é minha, a culpa é do governo, do sistema ou do diabo, ou podemos responder à pergunta que transcende épocas e gerações: eu estou cuidando do meu próximo.
Caim era mais velho e, portanto, responsável por cuidar do seu irmão mais novo. Deus te colocou em uma situação privilegiada de poder cuidar ao invés de ser cuidado? Então a responsabilidade é tua e de mais ninguém. Quando você se exime dela você mata teu próximo.
Como cristãos, que possamos responder à pergunta de Jesus com tranquilidade de alma: sou responsável por meu irmão Senhor, pode deixar que dele eu cuido.