quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

QUE A MORTE NÃO ERRE

O Shaolin morreu. Foram 1821 dias após o acidente; assim relatou sua esposa nas redes sociais.
Foram quase 5 anos, mas sua esposa contava em dias. Isso soa como um peso e deve ter sido mesmo. Por mais que houvesse amor e paciência, com certeza foi muito pesado, física, psicológica e financeiramente, para toda a família.
Não quero que seja assim comigo. Não acredito em carma. Não acho que eu deva ficar em uma cama por 5 anos para corrigir "erros" ou me "arrepender" de coisas que fiz e não deveria. Não acredito nisso.
Mesmo porque arrependimento significa mudança de direção, coisa que não se pode fazer em uma cama.
Sinto por ele e por sua família. Não tenho explicações "espirituais" para dar. Acho que infelizmente foi assim por uma casualidade do destino.
Mas se eu puder pedir alguma coisa, eu peço que comigo não seja assim. Se eu tiver que ir embora, que seja logo. Não tenho medo do além. Não tenho medo da morte. Tenho certeza que em alguns casos ela é melhor que a vida.
Não quero tempo para me despedir. Se não vivi adequadamente com meus familiares, não serão 5 minutos de lágrimas e desespero que vão mudar isso. Se tiver que ir, quero ir rápido, como quem tem pressa ou como quem não vê a hora de chegar ao destino. Quero ir ao encontro do Pai como o filho que corre para abraçar seu pai depois de muito tempo sem vê-lo.
Não quero que meus últimos dias sejam contados um a um, sentidos minuto a minuto, arrastando-se para terminar.
Quero que haja tristeza, sim, mas que essa seja breve como deve ser.
E se eu puder pedir só mais uma coisa, eu pediria morrer na ordem certa, como disse o Rubem Alves: primeiro o avô, depois o pai e depois o filho, nunca ao contrário.
Que assim seja.